Guest post: Diferenças culturais entre Japão e Brasil

Bem-vindos de volta à série de convidados!

Hoje tenho o prazer de receber a queridíssima Anna Ligia Pozzetti, intérprete de japonês.

Bem-vinda, Anna!

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Crédito: Alain PhamUnsplash

Bilíngue e bicultural: o tradutor e intérprete completo

Ao assistir a uma peça de Kabuki, tipo de teatro tradicional japonês, um estrangeiro desavisado pode ficar intrigado com os ajudantes de palco, vestidos dos pés à cabeça de preto, que entram em cena para auxiliar a troca de roupa dos atores durante as apresentações. Eles são chamados de Kuroko (黒子), e os dois ideogramas utilizados significam “preto” e “pessoa”. Mas o que essa palavra significaria caso fosse usada em uma reunião de negócios, sem nenhuma relação com qualquer linguagem artística japonesa? Significa alguém que ajuda os outros sem aparecer em público, alguém que dá suporte nos bastidores: um consultor externo, um conselheiro e, também, o tradutor ou intérprete. Expressões como essas estão presentes em todos os idiomas e, muitas vezes, precisamos realizar adaptações para que uma expressão faça sentido em outra cultura.

Um intérprete profissional consegue rapidamente realizar essas adaptações com sucesso, pois não basta ser bilíngue; é também preciso ser bicultural.

Falando nos problemas de comunicação que podem surgir, vamos começar com a questão puramente linguística. No caso do Japão, por exemplo, uma parcela significativamente pequena da população consegue se comunicar bem em inglês. O país tem a pior nota do TOEFL da Ásia, em termos de conversação, e estima-se que não mais de 7% dos japoneses em posição de liderança falam inglês. Por outro lado, para um estrangeiro conseguir dominar o idioma japonês a ponto de transmitir com acurácia a sua intenção é necessário conhecer mais de dois mil ideogramas, para início de conversa.

Mas os percalços na compreensão do conteúdo de uma reunião também acontecem como resultado dos diferentes valores culturais e costumes. Na conversação, apesar de ambos os lados acreditarem que realizar uma boa explicação é o suficiente para o entendimento mútuo, há um grande gap de crenças e comportamentos que são únicos a cada cultura. Por exemplo, um japonês não olhará diretamente nos olhos do seu interlocutor estrangeiro, pois é uma atitude considerada rude em seu país. Já um brasileiro pode ficar bastante incomodado com essa atitude, levantando suspeitas sobre as intenções do japonês com quem está conversando. Por outro lado, um brasileiro não ter todo o apreço com o cartão de visita como os japoneses tem, o que inclui regras de como entregar, receber e guardar, não significa que não há respeito pelo seu interlocutor. Só significa que nós não temos esse mesmo costume, e o cuidado com aquele pedaço de papel significa bem menos para nós do que para eles.

No caso da tradução, um exemplo interessante é o caso do slogan da Nike. No livro Translating Cultures: An Introduction for Translators, Interpreters and Mediators, de David Katan, o autor explica o caso publicado na Business Week, em 25 de abril de 1992. A Nike estabeleceu o seu slogan “Just Do It” em 1988. A ideia original não era traduzir o slogan, pois o objetivo do CEO era enfatizar que a marca é americana, algo que, na época, era considerado um grande atrativo. Além disso, vários idiomas não tinham uma estrutura semântica com três palavras que expressasse essa ideia. Yukihiro Akimoto, que se tornaria o CEO da Nike Japan, foi para os Estados Unidos para passar quatro meses imerso na cultura empresarial da Nike. No entanto, após esse período, a sua proposta para a tradução seria “Hesitar é perder tempo” (Hesitation makes waste/躊躇するな). O time da Nike ficou horrorizado, e a proposta foi refutada imediatamente. Segundo a revista, a dificuldade em encontrar uma tradução equivalente ao “Just Do It” encontrou, no Japonês, não só a barreira semântica, mas também cultural. No Japão, “feito não é melhor que perfeito”, e existem diversas etapas de planejamento e organização antes da etapa de concretização de um projeto. Um famoso provérbio japonês diz que é preciso permanecer sentado por três anos na pedra para aquecê-la. É preciso tempo. O slogan continua em inglês até hoje, pois seria impossível fazer adaptações culturais para cada país.

Nesse sentido, ao iniciarmos uma tradução ou interpretação, não basta termos o domínio do idioma, pois isso não nos fará um bom kuroko, que estará fazendo todo o trabalho nos bastidores da adaptação cultural. O sucesso é atingido quando o leitor não sente uma falta de naturalidade no texto ou quando o participante de uma conferência ou reunião não se sente incomodado em ouvir a voz de outra pessoa. E para sermos ao máximo invisíveis, precisamos transmitir uma ideia falada, dentro de um contexto cultural, de forma que faça sentido no idioma de alguém que advém de outra cultura. Transmitindo a ideia correta, sem alterar o seu sentido, é claro. Ou seja, além de ter um excelente domínio de ambos os idiomas, o tradutor/intérprete é um importante comunicador intercultural e vai muito além do trabalho da tradução automática, que simplesmente substitui as palavras. Ele vai além das palavras e auxilia a minimizar o gap de comunicação que surge por questões culturais.

Sobre a autora

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Fotógrafa: Lívia Conti

Anna Ligia Pozzetti é formada em Ciências Econômicas pela Unicamp e mestre em história econômica pela mesma Universidade, onde teve a oportunidade de estudar economia e ciência politica por um ano na School of Political Science and Economics da Universidade de Waseda, em Tóquio. Com mais de 7 anos de experiência como tradutora e intérprete de japonês, sendo certificada pelo Center for Interpretation and Translation Studies da Universidade do Havaí onde cursou o Summer Intensive Interpreter Training Program em 2019. A sua conexão com o idioma e a cultura japonesa é decorrente dos 6 anos em que viveu no Japão ao longo da infância, onde adquiriu a fluência no idioma e incorporou a cultura em suas raízes.

 

Guest post: Tradução do português para o espanhol

Sejam bem-vindos de volta a mais uma publicação de convidado!

Hoje, recebo a Sonia Rodríguez Mella, do blog Traducir Portugués e tradutora de espanhol e português.

10 erros comuns de tradução do português para o espanhol

Antes de mais nada, muito obrigada por ter me convidado para participar do seu blog. Para mim, é realmente uma honra.

Como você sabe, sou uma apaixonada pela língua “brasileira”.

Na Argentina, trabalho muito como tradutora e revisora dos pares espanhol <> português e gostaria de compartilhar com você e seus seguidores minha experiência, o que eu aprendi como revisora de espanhol.

Ninguém deseja enganar na hora de fazer uma tradução, mas o tradutor é um ser humano, portanto, não é perfeito. Sempre pode haver algum errinho em seu trabalho e, por isso, as traduções devem ser revisadas, sempre.

Os erros que eu vejo com frequência quando reviso traduções do português para o espanhol são de diferentes tipos. Realizei aqui, em decorrência disso, uma pequena seleção:

1) USO DA PREPOSIÇÃO A

O uso de preposições é difícil tanto em espanhol quanto em português. Sempre é bom ter por perto uma boa gramática e ler muitos textos de bons autores para consolidar de forma consistente o conhecimento.

O mundo das preposições, por si só, levaria à escrita de, pelo menos, um artigo, ou inclusive um livro dedicado ao tema. É por isso que aqui vou dar apenas alguns exemplos:

Encontrei Alicia na porta do cinema.
Incorreto: Encontré Alicia en la puerta del shopping.
Correto: Encontré a Alicia en la puerta del shopping.

Vou estudar português.
Incorreto: Voy estudiar portugués.
Correto: Voy a estudiar portugués.

Ela tem um filho doente.
Incorreto: Ella tiene un hijo enfermo.
Correto: Ella tiene a un hijo enfermo. (Doenças são consideradas passageiras.)

Ela tem um filho cego.
Incorreto: Ella tiene a un hijo ciego.
Correto: Ella tiene un hijo ciego. (A cegueira é permanente.)

2) PRONOME RELATIVO E CONJUNÇÃO QUE

Estes são erros que os nativos também cometem.

No primeiro caso, na verdade, o gerúndio não está bem usado e, portanto, a escrita certa exige o uso do pronome relativo que. No segundo caso, trata-se da conjunção que.

Neste caso, o uso do gerúndio não é correto:

Ele devolveu uma carteira contendo todos os documentos.
Incorreto: Él devolvió una billetera conteniendo todos los documentos.
Correto: Él devolvió una billetera que contenía todos los documentos.

Ela tinha certeza de que não passaria na prova.
Incorreto: Ella estaba segura que no aprobaría el examen.
Correto: Ella estaba segura de que no aprobaría el examen.

3) TRADUZIR “MUITO” POR MUCHO (SEMPRE)

Em espanhol, a palavra “muito(a)” pode ser traduzida como muy ou como mucho(a), dependendo da construção da frase.

Muy: antes de adjetivos e advérbios.
Mucho(a): antes de substantivo singular e depois de verbo.

Atenção! Há exceções…

Mucho é usado:

  • antes dos advérbios: antes, después, más e menos.
  • antes dos adjetivos: mejor, peor, menor e mayor.

Exemplos:

Ella es muy linda.
Él llegó muy tarde.
La traductora sabe mucho.
El traductor llegó mucho antes.
Este diccionario es mucho mejor que el anterior.

4) USO INCORRETO DO HÍFEN

Em português, o hífen é muito usado, mas, no espanhol, as regras de uso do hífen são muito diferentes.

América Latina para os latino-americanos.
Incorreto: América Latina para los latino-americanos.
Correto: América Latina para los latinoamericanos.

Conclusão de uma metanálise publicada em janeiro.
Incorreto: Conclusión de un meta-análisis publicado en enero.
Correto: Conclusión de un metaanálisis/metanálisis publicado en enero.

Nesse último caso, por exemplo, trata-se de uma palavra que o DRAE não registra. Porém, o dicionário de Fernando Navarro inclui apenas “metanálise”, mas a Fundéu aceita as duas formas.

5) ACENTUAÇÃO DE MONOSSÍLABOS

Em português, os monossílabos tônicos são sempre acentuados, mas, no espanhol, de modo   geral, os tônicos e os átonos não são acentuados, exceto nos casos de acento diferencial:

Termo Classificação Termo Classificação
De Preposição (de) Verbo (dê)
El Artigo (o) Él Pronome (ele)
Mas Conjunção (mas) Más Advérbio, adjetivo ou pronome; conjunção (mais)
Mi Adjetivo possessivo (meu) Pronome pessoal (mim)
Se Pronome (se) Verbo (sei)
Si Conjunção (se) Advérbio (sim)
Te Pronome (te, lhe) Substantivo (chá)
Tu Possessivo (teu, seu) Pronome pessoal (tu)

Também são acentuados os monossílabos posicionados entre sinais de interrogação e admiração.

Exemplos:

¿Qué hora es?
¿Cuál quiere?
¿Cuán grande era?
¿Quién era?

6) USO DO SINAL DE PORCENTAGEM

Em português, o sinal de porcentagem vem depois do número, sem espaço. Em espanhol, entre o número e o sinal de porcentagem deve ter um espaço: 20 %. Só não tem espaço se for o caso do espanhol dos EUA.

7) ABUSO DA VOZ PASSIVA

Em português, usa-se muito a voz passiva, mas, em espanhol, ela deve ser evitada.

Nessa loja, são vendidos os bolos mais gostosos de SP.
Incorreto: En esa tienda son vendidas las tortas más ricas de São Paulo.
Correto: En esa tienda se venden las tortas más ricas de São Paulo.

8) FORMATO DAS HORAS

Em espanhol, as horas são escritas de diferente forma, dependendo do local.

Espanhol da América Latina (LA), da Espanha, internacional (XL) e da Argentina:

10:00 h – 22:00 h

Espanhol do México (MX) e dos EUA:

10 a. m. – 10 p. m. (com espaço)

9) FORMATO DOS NÚMEROS

Em espanhol, os números são escritos de diferente forma, dependendo do local.

Espanhol da América Latina (LA), da Espanha, internacional (XL) e da Argentina:

  • Quatro dígitos: sem vírgula, por exemplo, 1000
  • Mais de quatro dígitos: com espaço, por exemplo, 10 000
  • Uso de decimais: com vírgula, por exemplo, 0,75

Espanhol do México (MX) e dos EUA:

  • Quatro dígitos: sem vírgula, por exemplo, 1,000
  • Mais de quatro dígitos: com espaço, por exemplo, 10,000
  • Uso de decimais: com vírgula, por exemplo, 0.75

10) ARTIGO ANTES DE NOMES DE EMPRESAS

Em português, é habitual o uso do artigo antes do nome de uma empresa. Isso não ocorre em espanhol.

A Odebrecht foi responsável pela construção do edifício.
Incorreto: La Odebrecht fue responsable de la construcción del edificio.
Correto: Odebrecht fue responsable de la construcción del edificio.

Tudo tem um limite; por isso, registrei apenas dez tipos de erros, mas a lista é muito maior.

Espero que você tenha gostado e que seja útil para os tradutores que seguem você nas redes.

Mais uma vez, muito obrigada por ter me dado esta oportunidade.

Sobre a autora
foto soniaSonia Rodríguez Mella é contadora, tradutora de português e autora do Diccionario ACME Español-Portugués/Portugués-Español, publicado pela Editorial Acme Agency, da Argentina, e supervisionado pela Editora Nova Fronteira, do Brasil. Trabalha de forma autônoma desde 1993. Antes dividia seu tempo entre as duas profissões, mas, em 2005, decidiu dedicar todos os seus esforços à área de tradução. Em 2010, criou o blog www.traducirportugues.com.ar e mantém uma página no Facebook, Traducciones de Portugués, que está atingindo os 9.000 seguidores. No blog e nas redes, ela transmite regularmente suas experiências relacionadas com os idiomas espanhol e português. Em 2017 e 2018, participou do Congresso Internacional da Abrates, associação da qual é membro.

Guest post: Stephen King e sua tradutora

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Crédito: Editora Suma

O mundo sombrio de Stephen King

Desde 2013, minhas aventuras por esse mundo ganharam uma nova dimensão; no entanto, já o frequento há muitos anos, desde bem antes de pensar em ser tradutora. Quando ainda adolescente, descobri o autor por acaso, em um conto publicado na revista Speak Up, e mesmo aos 14 anos fiquei tão fascinada com a capacidade do autor de se aventurar pela natureza humana usando elementos de terror que simplesmente tive que descobrir mais.

Esse conto se chamava “The Boogeyman” e foi publicado no Brasil com o título “O fantasma”, parte da coletânea de contos Sombras da noite (tradução de Adriana Lisboa). Três décadas se passaram e eu ainda acho esse conto uma das coisas mais incríveis que ele escreveu. Tenho certeza de que há pessoas pensando: “Natureza humana? O cara é escritor de terror!” Mas essa foi uma das descobertas mais incríveis que eu fiz e que tenho certeza de que muita gente não fez por preconceito: o terror do King não é de medinho, sustos e sangue (embora alguns desses elementos costumem estar presentes nas histórias). Porque, afinal, o que realmente pode dar medo não é um fantasma, um monstro, um alienígena. A coisa mais assustadora que existe no mundo é o homem.

Em 2013, recebi a proposta de traduzir It – A coisa, que é uma das obras icônicas do autor. É um calhamaço de pouco mais de mil páginas que conta sobre o horror que assola uma cidadezinha do estado do Maine, nos Estados Unidos, e um grupo de sete crianças que se juntam pra combatê-lo, com trechos se revezando num intervalo de quase três décadas, quando as mesmas crianças, agora adultas, voltam à cidade para o embate final. Para os desavisados, para os que conhecem apenas a capa, para quem viu o trailer do filme, parece a história de um palhaço assassino. Mas It aborda horrores muito mais sombrios: homofobia, violência doméstica, abuso infantil, abandono, racismo, tantos desses horrores humanos dos quais a gente sempre ouve falar e que são sempre contemporâneos e familiares.

O trabalho hercúleo de traduzir um original com 450 mil palavras trouxe frutos; logo vieram outros livros do autor, que eu já admirava tanto e conhecia tão bem. Mas conhecia mesmo? A sensação que tive foi de que comecei a examinar Stephen King com uma lupa, em vez de apenas com meus olhos. Comecei a desbravar nuances, detalhes, recursos, e a conhecer o autor por um viés diferente. A conta até o momento é de 11 livros, um conto gratuito disponível online aqui e o prólogo e o epílogo nunca publicados anteriormente de O iluminado (tradução de Betty Ramos de Albuquerque), que saíram na edição pertencente à coleção Biblioteca Stephen King. O trabalho continua firme, pois o King não para: em 2019, teremos mais.

Curiosamente, quando comecei a leitura, láááá na adolescência, o que mais me fascinava era mesmo o terror puro e simples; meu eu adolescente queria descobrir como sentir medo, os monstros que poderiam tirar meu sono. (Spoiler: não deu certo, eu não sinto medo de monstros.) Acredito que se não houvesse esse outro lado mais profundo nos textos dele, eu teria deixado seus livros para trás, como deixei alguns outros autores; mas a questão da natureza humana é a que mais me fascina agora e é o que me prende quando trabalho em um livro como Outsider, por exemplo, em que um policial eficiente e prático é obrigado a enfrentar suas crenças quando se depara com um assassinato brutal e um assassino improvável, ou como Belas adormecidas, que trata do papel da mulher na sociedade por meio das estruturas habituais e conflitantes de comunidades pequenas (no caso, uma prisão feminina e uma cidade) que são recorrentes do King. A propósito, poucos constroem personagens como o King, e poucos os matam como ele.

Para quem gosta de ler, mas nunca se animou a enfrentar os calhamaços habituais do autor, seja pelo tamanho ou pelo tema, sugiro que experimente. Vale começar por um dos pequenos que fogem da linha terror, como Joyland, ou pelos livros de contos, como Bazar dos sonhos ruins ou o próprio Sombras da noite, que são um ótimo portão de entrada para entender como funciona a cabeça e o estilo dele. Ah, e uma última dica: não usem os filmes baseados nas obras como parâmetro para avaliar os livros, pois eles raramente abordam o viés humano dos personagens que encontramos nas histórias.

Enquanto o autor continuar escrevendo, espero continuar traduzindo seus livros, até o dia em que, quem sabe, os horrores humanos estejam mais próximos da ficção sobrenatural do que da realidade do nosso cotidiano.

Sobre a autora
13346792_1198107916880645_2973286513876119150_nRegiane Winarski é formada em Produção Editorial pela ECO-UFRJ e tradutora de inglês para português desde 2009. Especializada em tradução literária para editoras como Suma, DarkSide, Rocco, Intrínseca, Record e outras, com mais de cem livros publicados. Trabalha com uma ampla variedade de gêneros, como fantasia, suspense/horror e romances para adultos e jovens adultos, de autores como Stephen King, Rick Riordan e David Levithan. Tradutora do premiado livro de 2017 “O ódio que você semeia”, de Angie Thomas, publicado pela Galera Record.

Guest post: Boas práticas de interpretação

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Crédito: rawpixel, em Unsplash

Educar clientes de interpretação simultânea: mito de Sísifo ou oportunidade para fortalecimento de laços?

O convite da querida colega Caroline Alberoni para que eu escrevesse um post a ser publicado neste blog, um dos meus favoritos sobre tradução e interpretação, fez com que eu fosse confrontada com os seguintes desafios: medo da rejeição, writer’s block e dificuldade de escolher um tema. Caro leitor, se você está lendo este texto agora, isto significa que, desta vez, consegui vencer o medo, o writer’s block e escolher um tema a ser discutido, ainda que eu esteja chovendo no molhado.

A motivação para escolher esse tema é constatar que o trabalho de educar nossos clientes recomeça a cada solicitação de orçamento apresentada, mesmo quando se trata de clientes antigos. Por muito tempo, eu ficava frustrada por precisar educar clientes, tanto os novatos quanto os veteranos em contratação de serviços de interpretação simultânea, sobre nossas boas práticas. Sentia que explicar e defender nossas práticas de mercado se assemelhava muito à tarefa de Sísifo. O mito de Sísifo, pertencente à mitologia grega, resulta da punição póstuma a Sísifo por traição aos deuses. Na terra dos mortos, ele era obrigado a empurrar uma pedra até o lugar mais alto da montanha, de onde ela rolaria de volta ao ponto inicial. No passado, eu costumava sentir que, por mais que façamos o trabalho de explicar e ensinar as boas práticas do setor, ele nunca, de fato, termina. Além de achar que essa era uma experiência penosa e enfadonha.

Nos últimos meses, me esforcei para mudar a minha atitude com relação à maneira de explicar as boas práticas aos clientes. Em vez de reagir com o pensamento “Lá vem o cliente que não entende do mercado de interpretação querendo reinventar a roda”, comecei a pensar “Vou usar meus melhores argumentos e fazer referência à nossa associação profissional ABRATES (Associação Brasileira de Tradutores) e ao SINTRA (Sindicato Nacional dos Tradutores) para defender as boas práticas do mercado e ter uma negociação favorável a ambas as partes com garantia de boas condições de trabalho para a equipe de intérpretes”. Essa mudança de atitude fez com que eu passasse a ver o momento de educar os clientes como uma oportunidade para fortalecer meus laços com os contratantes em potencial. Tomei as seguintes atitudes nas situações detalhadas abaixo:

1. Argumento do cliente: não preciso de um profissional, só de uma pessoa que seja fluente em português e inglês

Atitude passada orientada pela perspectiva da tarefa de Sísifo (resposta por e-mail): “Sou plenamente qualificada para atender às necessidades do seu evento.”

Atitude presente orientada pela perspectiva de fortalecimento de laços (resposta por e-mail e contato telefônico para reforçar a mensagem do e-mail): “O evento tem valor estratégico para o posicionamento da sua empresa dento de seu setor de atuação. Portanto, é importante garantir a qualidade da mensagem a ser passada ao público que precisa da interpretação simultânea. Intérpretes profissionais são fundamentais para mediar a comunicação entre pessoas que não são fluentes nos mesmos idiomas. Conte com meus serviços de intérprete de conferências profissional para atender às necessidades de comunicação do evento.”

Resultado: orçamento aprovado e evento agendado.

2. Argumento do cliente: Não preciso de um profissional… ser fluente nas duas línguas é o suficiente, pois a reunião para divulgar o produto será superinformal

Atitude passada orientada pela perspectiva da tarefa de Sísifo (resposta por e-mail): “Ser fluente em duas línguas não qualifica uma pessoa a trabalhar bem como intérprete.”

Atitude presente orientada pela perspectiva de fortalecimento de laços (resposta por e-mail e contato telefônico para reforçar a mensagem do e-mail): “O momento de apresentação de um produto para clientes em potencial é único e merece planejamento esmerado em todos os detalhes, desde a montagem da lista de convidados até a escolha do buffet. Logo, um evento tão bem preparado será mais eficaz com o trabalho de intérpretes de conferência profissionais para servir como pontes de comunicação entre pessoas que não falam a mesma língua. Minha empresa está apta a oferecer os serviços de interpretação simultânea necessários ao sucesso do seu evento.”

Resultado: negociação interrompida.

3. Argumento do cliente: a interpretação dura apenas 4 horas, um intérprete sozinho dá conta

Atitude passada orientada pela perspectiva da tarefa de Sísifo (resposta por e-mail): “É contra a praxe dos intérpretes de conferência, segundo recomendação do Sindicato Nacional dos Tradutores (SINTRA), trabalhar sozinho por períodos superiores a 1 hora em conferências e 2 horas em acompanhamentos externos.”

Atitude presente orientada pela perspectiva de fortalecimento de laços (resposta por e-mail e contato telefônico para reforçar a mensagem do e-mail): “De acordo com a recomendação do Sindicato Nacional dos Tradutores (SINTRA), intérpretes devem trabalhar sozinhos por um tempo limite de 1 hora em conferências e 2 horas em acompanhamentos externos. Essa recomendação é resultado de estudos que comprovam queda de desempenho dos intérpretes e perda da qualidade da mensagem após os períodos citados acima. Dessa forma, para garantir a qualidade da comunicação no evento, é necessário que dois intérpretes trabalhem em revezamento.”

Resultado: orçamento aprovado, evento agendado e fidelização do cliente que contratou os serviços tanto em 2017 quanto em 2018.

4. Argumento do cliente: não há diferença de tarifa para contratação de 2 ou 6 horas de trabalho?

Atitude passada orientada pela perspectiva da tarefa de Sísifo (resposta por e-mail): “Em consonância com a recomendação do Sindicato Nacional dos Tradutores (SINTRA), a tarifa de interpretação simultânea cobre até 6 horas de trabalho e é indivisível.”

Atitude presente orientada pela perspectiva de fortalecimento de laços (resposta por e-mail e contato telefônico para reforçar a mensagem do e-mail): “Além da recomendação do Sindicato Nacional de Tradutores (SINTRA) para que a diária de interpretação simultânea contemple até 6 horas indivisíveis de trabalho, é importante lembrar que quando um cliente solicita uma reserva de agenda para mim, deixo de atender outros clientes em potencial para atender o cliente que fez a reserva. Simplesmente não ’encaixo’ dois ou mais clientes ao longo de um dia de trabalho. Portanto, a diária fica inalterada se o período de trabalho efetivo for inferior a uma jornada de 6 horas indivisíveis.”

Resultado: orçamento aprovado, evento agendado e fidelização do cliente que contratou os serviços tanto em 2017 quanto em 2018.

5. Argumento do cliente: seu orçamento está muito caro, poderia recomendar uma pessoa que cobre menos que você? Não precisa ser profissional… só ser fluente em português e inglês

Atitude passada orientada pela perspectiva da tarefa de Sísifo (resposta por e-mail): “O orçamento apresentado se coaduna com a recomendação do Sindicato Nacional dos Tradutores (SINTRA) e prevê a devida emissão de nota fiscal bem como o recolhimento de todos os encargos devidos.”

Atitude presente orientada pela perspectiva de fortalecimento de laços (resposta por e-mail e contato telefônico para reforçar a mensagem do e-mail): “Obrigada pelo posicionamento com relação ao orçamento apresentado. Neste link, você encontra o diretório de associados da Associação Brasileira de Tradutores (ABRATES): https://abrates.com.br/buscar-tradutores/. Esse diretório é uma boa ferramenta para que você possa entrar em contato com outros intérpretes de conferência profissionais. Caso opte pela contratação da minha empresa para prestação dos serviços, o orçamento apresentado anteriormente permanece válido pelos próximos 30 dias.”

Resultado: negociação interrompida.

 A despeito de ouvir questionamentos muito similares de clientes diferentes e de ter o sentimento de repetir o mesmo trabalho de educar os clientes a cada solicitação de orçamento, repetindo a metáfora do mito de Sísifo, hoje vejo com clareza que, quando nossos clientes questionam as práticas do nosso setor de atuação, temos a oportunidade de melhorar a qualidade da nossa comunicação com aquele cliente e, principalmente, fortalecer os laços profissionais com aquele contratante. Todos os argumentos de clientes citados acima foram úteis para que eu mudasse minha atitude e conseguisse manter conversas telefônicas e trocas de e-mail úteis para o cliente no sentido de oferecer melhor entendimento sobre o trabalho e as práticas dos intérpretes de conferência profissionais.

Sobre a autora
2018 06 RoBelinky ABRATES-9Rane Souza é intérprete, tradutora e professora de inglês e português para estrangeiros. No âmbito do magistério, ministra aulas particulares prioritariamente para adultos. No mercado de tradução escrita, atua principalmente nos segmentos editorial, tendo vertido ao inglês as obras Abrolhos Terra e Mar, de Rafael Melo (Editora Bambalaio, 2017) e Ver, de Antônio Bokel (Editora Réptil, 2017); e jurídico, com foco na tradução e versão de contratos. Como intérprete de conferências, trabalha nos mercados corporativos privados e do terceiro setor.

Guest post: Organização e produtividade

Bem-vindos de volta à série de publicações convidadas! Neste mês, tenho a honra de receber um colega de trabalho, profissional incrível que muito ajudou os tradutores durante sua passagem pela Abrates como diretor e presidente e ser humano exemplar que tenho o orgulho de chamar de amigo.

Bem-vindo, William!

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Foto de Emma Matthews, disponível em Unsplash

Vamos conversar um pouquinho sobre produtividade, qualidade de vida e organização?

Responda rápido: se você tem um trabalho pequeno que, pela sua experiência, não deve demorar mais que duas horas para ser feito, com prazo de cinco dias para a entrega, quando você começará a cuidar desse serviço?

Se você disse: “Imediatamente, mas vou parar sempre que houver uma notificação de mensagem no computador ou no celular, afinal, tem tempo de sobra para terminar e esse trabalho nem é tão grande assim, já conheço bem o assunto que esse cliente traduz, enfim, não tenho motivos para me preocupar.” Não se sinta só e leia o artigo.

Se sua resposta foi: “Na manhã do último dia do prazo, eu abro o arquivo e traduzo, não quero acostumar mal o cliente entregando muito antes do prazo. Tradução não é disque-pizza, e o cliente não vai valorizar meu trabalho se eu entregar mais rápido, vai pensar que é fácil de fazer.” Saiba que muitos tradutores e outros profissionais autônomos também pensam exatamente assim. Novamente, não se sinta só, mas leia este artigo. Leia agora.

Se respondeu que começará imediatamente e entregará ainda hoje, você faz parte de uma minoria muito disciplinada. Mas continue lendo. Tenho algumas dicas para você também.

Por que protelamos? Você sabe que tem o que fazer, sabe que tem um prazo, tem ideia de quanto tempo pode demorar para fazer, mas assume a postura do “tá tranquilo, tá tudo certo, tenho tudo sob controle”. A resposta para essa pergunta, no meu caso, foi: isso acontece porque você não tem uma rotina organizada e perde o foco com frequência.

Ter uma rotina organizada é fundamental para que você esteja no controle não só do trabalho, mas de todo o seu tempo. Eu sei, eu sei, disso você já sabia, mas o problema é colocar em prática a organização, é se habituar a ter uma agenda, uma estratégia para definir prioridades e até para decidir o que não precisa de sua atenção e deve ser deixado de lado. Porque sim, há coisas que você pode deixar de fazer, e elas não causarão nenhum impacto negativo em sua vida. Durante o período em que trabalhei na Abrates, precisei aprender a me organizar para conseguir responder às muitas demandas da associação, às necessidades inerentes de nosso trabalho, como prospectar novos clientes, manter-me atualizado e, principalmente, dar atenção aos amigos e à família que, durante esse período, ainda me presenteou com meu primeiro neto.

Não foi fácil me organizar e melhorar o foco, mas foi menos difícil do que imaginei.

Algo muito importante que você precisa saber: ninguém se torna organizado de um dia para o outro, apenas lendo sobre o assunto ou simplesmente fazendo um curso. Organização é aprendizado e construção de hábitos. É um processo lento, mas sempre passível de melhoria. A definição que mais me agrada, tirada de alguns dos muitos livros e artigos que li, é: organização é um processo de redução e seleção. Você reduz a quantidade de eventos que realmente precisam de sua atenção e seleciona quais terão sua atenção com prioridade. Há muitas ferramentas para ajudar nesse processo. Tenho algumas dicas para quem quer começar a se organizar. Dicas simples, mas muito eficientes.

A primeira é: registre em que você gasta seu tempo. Você certamente ficará surpreso ao descobrir que desperdiça boa parte de seu tempo na frente do computador com coisas que não fazem parte de sua rotina de trabalho. Você pode fazer isso com papel e caneta ou instalar algum software que registre quais os programas, sites e outras atividades realizadas no computador e por quanto tempo. Se você usa Mac, minha sugestão é o Timing. Para PC, ouvi dizer que o Toggl é uma boa opção. Instale uma dessas ferramentas em seu computador e use-o normalmente por uma semana. Provavelmente, você descobrirá que redes sociais, mensageiros e e-mails são os vilões que mais roubam tempo dos profissionais freelancers. Você pode estar pensando: mas preciso “me desligar um pouquinho” para ser mais produtivo, ter uma válvula de escape… O problema é que essa válvula precisa estar bem regulada e só deve ser aberta nos momentos certos. No meu caso, o ideal é que essa válvula esteja em outro lugar, não no computador. Uma caminhada, uma conversa com o porteiro, uma série ou desenho animado na TV. Qualquer coisa que faça você se levantar da cadeira e se movimentar pode melhorar não só sua produtividade, mas também sua saúde.

A segunda dica é sobre definição de prioridades. Uma das ferramentas mais básicas e práticas para quem quer se organizar é a Matriz de Eisenhower. Creditada ao general e ex-presidente norte-americano Dwight Eisenhower, que precisava tomar decisões rápidas durante a Segunda Guerra, ela ajuda a definir em que colocar seus esforços, o que delegar, o que agendar e o que simplesmente não fazer. Recomendo começar sua jornada de organização por ela, pela facilidade e custo zero de implementação: papel e caneta resolvem a maioria dos casos. Um vídeo bem claro sobre esta ferramenta você encontra aqui.

Outra forma de se organizar é desenvolver fluxos de trabalho. Documente em uma lista a sequência de passos que você executa para realizar trabalhos com eficiência. Mesmo para aqueles trabalhos que você já faz de olhos fechados, escrever um fluxo de trabalho pode ajudar a perceber onde você está perdendo tempo e o que poderia melhorar. Além disso, você também pode perceber a oportunidade de automatizar algo em seu processo. Não se esqueça de que o computador deve trabalhar para você, e não o contrário.

Uma dica importantíssima que ignorei por muito tempo: dormir bem. É quase impossível manter o foco e ser organizado se você não dá a seu cérebro o descanso de que ele precisa. Desenvolva uma rotina para relaxar e se recuperar para o dia seguinte. Dormir sempre no mesmo horário faz com que seu corpo se prepare melhor e tenha mais facilidade para entrar no sono. O que fiz quando comecei a implementar essa rotina foi usar o despertador de forma inversa: colocava um alarme no meu celular para tocar às 22h30. Assim que ele tocava, eu começava a me preparar para dormir. Não foi preciso muito tempo para que isso se tornasse rotina. Claro, como dizem por aí: there’s an app for that! E você pode usá-los para monitorar e entender melhor seu sono. Atualmente, uso o Pillow, para iOS. Se você usa Android, ouvi boas recomendações do Sleep as Android, que oferece 14 dias de avaliação gratuita.

Para encerrar, três dicas rápidas:

  • E-mails são importantíssimos, mas também podem consumir boa parte de nosso tempo. Para manter o foco, desligue as notificações e defina um horário rígido para lidar com eles. Para alguns endereços para os quais você precisa responder rapidamente, crie notificações usando filtros.
  • Se você usa o Gmail, aprenda a usar filtros e respostas predeterminadas.
  • Descubra qual tipo de música melhora sua produtividade. Eu uso o Focus@Will, serviço que usa neurociência e realmente funciona para mim.

Há muitas ferramentas e métodos que prometem melhorar a produtividade e a organização. Não existe um método que funciona para todo mundo e você pode descobrir que parte de um funciona bem, parte de outro ajuda bastante, que você não suporta tal método… O ideal é testar e descobrir o que funciona para você. Organização e produtividade são pessoais.

Agradeço minha amiga Carol Alberoni por este convite e espero ter colaborado um pouco com sua produtividade e organização. Qualquer dúvida, estou à disposição.

Sobre o autor
William_AvatarWilliam Cassemiro tem 47 anos, é pai orgulhoso de duas filhas e avô-babão do Luquinhas. Foi diretor e presidente da Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes, Abrates, de 2014 a 2018, e participou ativamente da organização de cinco Congressos Internacionais da Abrates, com público médio de 600 participantes. Organizou diversos cursos pela associação, participou de congressos em outros países, palestrou no Brasil, Inglaterra e Uruguai. Sua primeira formação foi em Eletrônica, ramo em que atuou em grandes empresas de Tecnologia, como Xerox e SEMP Toshiba. É tradutor profissional de inglês para português, com Bacharelado em Letras pela Universidade de São Paulo. Na Abrates, considera seu maior feito a implementação do Programa de Mentoria da associação, que orienta tradutores e intérpretes em início de carreira.

Tradução e interpretação: inclusão de palavra em palavra – Parte 2

Caso ainda não tenha lido a primeira parte, acesse-a aqui.

Ainda no primeiro dia de palestras do congresso, após o coffee break, participei da mesa-redonda do Programa de Mentoria da Abrates, Caminho das Pedras, do qual orgulhosamente já fui coordenadora e ajudei a criar. O Programa de Mentoria foi idealizado pelo William Cassemiro, quando ainda era diretor da Abrates, e lançado em março de 2016. Hoje, o Comitê de Administração é composto pelos seguintes coordenadores: Carolina Ventura, Gisley Ferreira, Lidio Rodrigues e Sidney Barros Junior (não presente na mesa-redonda por motivo de força maior). Também fizeram parte da mesa um par de mentora (Ana Julia Perrotti-Garcia) e mentorada (Priscila Osório Côrtes), que contaram como foi sua experiência no programa, e a Monica Reis, que também ajudou a criar o programa.

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Mesa-redonda sobre o Programa de Mentoria da Abrates

O Programa de Mentoria é totalmente voluntário e gratuito, mas exclusivo para associados da Abrates. O programa já ajudou 55 mentorados desde sua criação. No momento, há nove pares em andamento. Os requisitos para ser mentorado são: ter até dois anos de experiência como tradutor/intérprete ou, caso não tenha experiência, estar cursando o último ano de um curso de letras/tradução/interpretação. Os requisitos para ser mentor são: ter pelo menos cinco anos de experiência como tradutor/intérprete. A duração de cada programa é de seis meses, e as reuniões são realizadas da melhor forma decidida entre o par de mentor e mentorado (presencialmente, Skype, e-mail, WhatsApp, etc.). As fichas de inscrição são analisadas por todos os membros do Comitê de Administração, que decidem em comum acordo se o candidato é qualificado ou não para o programa e, caso seja aprovado, quem é o mentor mais adequado ao perfil dele. Após essa decisão, o mentor recebe a ficha do possível mentorado e decide se concorda com a escolha ou não. Cada par é acompanhado por um coordenador (membro do Comitê de Administração). As metas a serem abordadas no programa são basicamente traçadas por cada mentorado com a ajuda do mentor. No entanto, é importante ressaltar que o programa não visa ensinar como traduzir, mas orientar sobre os aspectos práticos do mercado, que normalmente não são abordados pelos cursos da área.

A mentora Ana Julia Perrotti-Garcia já participou de três ciclos e relatou sua experiência: “Ganhei três grandes amigos e colegas de profissão”.

Para mais informações, acesse a página do programa no site da Abrates (link acima). Também há mais detalhes sobre o programa nesta publicação do blog.

Após o almoço, foi a vez da minha primeira apresentação, “Nem só de tradução vive o tradutor: acabando com o endeusamento do trabalho em excesso”, sobre a qual falarei em uma publicação separada. Aguardem!

Em seguida, foi a vez de Mark Thompson, com a apresentação “Menos heavy, mais leve. Pense no leitor alvo!” Mark, cuja língua materna é o inglês, falou sobre versões de português para inglês feitas por tradutores não nativos. Segundo ele, os seguintes adjetivos, entre outros, são usados para descrever essas traduções: long-winded, verbose, wordy, prolix, repetitive. Como vez ou outra faço versões, gostei muito de algumas dicas e soluções que ele deu para alguns termos difíceis de serem traduzidos, como “elaborar” (draft, formulate, detail, write, outline, design, etc.), “destacar” (highlight, stress, mention, emphasize, underline, etc.) e “desembolso” (spending, spend, expenditure, etc.). Dica dele ao verter do português para o inglês: não reproduza o português religiosamente e evite repetições desnecessárias.

O sábado foi concluído com a apaixonante palestra da grande Alison Entrekin, tradutora literária do português para o inglês, “Oombarroom: a reconstrução de Grande Sertão em inglês”. Como o próprio nome da palestra diz, Alison está atualmente trabalhando em uma nova versão da grande obra de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, para o inglês, com o apoio do Itaú Cultural. Australiana, Alison mora no Brasil há mais de 20 anos e nos deleita com um português perfeito: “É a primeira vez que falo para um público de tradutores”. Que honra! Segundo ela, além de ser um livro extenso, com cerca de 600 páginas, a densidade dele é ainda maior. Menciona Haroldo de Campos, que afirmou que traduzir Grande Sertão é um processo de transcriação no qual perde-se de um lado, mas ganha-se de outro, e no qual o grande protagonista é a língua. Quanto à sua imensa responsabilidade nesse longo projeto, Alison diz que “só” tem “que traduzir para um inglês universal e inexistente”. Baba de moça, não é? Tradutora de grandes obras da língua portuguesa, como Cidade de Deus, de Paulo Lins, Budapeste, de Chico Buarque, e Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, Entrekin conseguiu nos encantar com seu amor pela língua portuguesa e o carinho e atenção que dedica não só a Grande Sertão: Veredas como a todas as obras que traduz. Ela é capaz de despertar o amor pela literatura e pela tradução literária até nos menos interessados.

Dica: a Alison já fez parte da série de entrevistas Greatest Women in Translation deste blog. Leia aqui.

No domingo, último dia do congresso, minha primeira palestra do dia foi “Novas ferramentas de auxílio à tradução e sua performance”, por Marcelo Fassina. Marcelo começou afirmando que MT (tradução automática) não é mais tendência, já é a realidade. Os clientes de serviços de linguagem, provedores de tecnologia, linguistas (nós) e LSPs (Language Service Providers) precisam trabalhar em conjunto nessa nova realidade tecnológica, segundo Fassina. Precisamos começar a abraçar as novas tecnologias e nos especializar cada vez mais. Lugares para bons profissionais sempre existirão no mercado, e a alta especialização será o que diferenciará os tradutores das máquinas. Além de diversidade e inclusão, eis aqui outra palavra que ouvi muito em todo o congresso: “especialização”.

Em seguida, assisti à palestra do Reginaldo Francisco e do Roney Belhassof, “Tradução saindo da torneira?” Criadores do projeto Win-Win, os dois falaram sobre a evolução e as tendências do mercado de tradução. Achei extremamente interessante e relevante a menção que fizeram a uma declaração publicada no site do congresso de 2013 da TAUS (tradução livre minha): “A tradução está se tornando um serviço de utilidade pública, como eletricidade, internet e água, que são serviços de que precisamos no dia a dia, sem os quais nos sentiríamos perdidos. Esses serviços estão sempre disponíveis, inclusive em tempo real, se necessário.” Segundo Reginaldo e Roney, a tradução faz parte do processo de construção cultural e linguística da humanidade.

Ainda não conhece o projeto Win-Win? Acesse o site (link acima) e saiba mais sobre essa iniciativa de democratização da tradução.

Infelizmente, tive que sair da apresentação dessa dupla dinâmica antes do término, pois, em seguida, foi minha segunda apresentação do congresso, “Gerenciamento e curadoria de redes sociais para tradutores”, sobre a qual também falarei em outra publicação separada em breve. Aguardem!

Neste ano, o encerramento do congresso foi antecipado, pois o Brasil estreou na Copa do Mundo contra a Suíça na parte da tarde. No entanto, além de exibir o jogo em um local dedicado especialmente aos torcedores, a Abrates também ofereceu palestras breves, estilo TedTalks, durante o jogo para aqueles que não são fãs de futebol.

Assim como a abertura, o encerramento também foi inovador e inclusivo, com uma palestra apresentada em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e interpretada em português e inglês! A professora Marianne Stumpf, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), deu um show de simpatia com a apresentação “Tradutores surdos: experiências em processos de tradução para Libras”. Fiquei impressionada com o tanto que a comunicação em Libras é bem mais rápida que a comunicação oral! Foi uma experiência incrível para sentirmos um pouco na pele como é ser surdo. Segundo a professora, a visibilidade do intérprete de Libras é maior que a do intérprete comum, tornando a estética e a vestimenta detalhes importantes, pois influenciam na interpretação. Ilustrando a diferença entre as línguas de sinais de diferentes países, Stumpf nos contou que, por exemplo, o sinal que fazemos com o dedo médio, que é uma ofensa aqui no Brasil, significa “férias” na língua internacional de sinais. O número total de alunos surdos no Brasil é de 5,7 milhões, desde a educação básica até cursos superiores.

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Marianne Stumpf. Crédito: Renato Beninatto.

Desde o congresso realizado em Belo Horizonte, em 2013 (que, aliás, foi o ano de criação deste blog), não perco uma edição. O congresso já teve um número recorde de participantes (quase 900, em 2015, em São Paulo), localizações diferentes (como a de Belo Horizonte), palestras memoráveis (abertura com Leandro Karnal, no ano passado, em São Paulo), mas essa edição foi linda! O William Cassemiro, que ocupou o cargo de presidente de 2016 a este ano, encerrou seu mandato e seu lindo trabalho na associação com chave de ouro. Deu um show de inclusão e lição de vida a todos nós com as palestras de abertura e de encerramento. A Abrates sempre é sinal de inovação. Foi a primeira a fornecer interpretação simultânea e de Libras em seus congressos. Agora inovou mais uma vez com dois palestrantes negros de abertura, um homem e uma mulher, e uma palestrante em Libras no encerramento. Tenho muito orgulho de ser membro de uma associação que se preocupa também com a humanidade, a diversidade e a inclusão.

Agora, quem assume o cargo de presidente por dois anos é o Ricardo Souza. E ele já disse que o próximo congresso, que será realizado no ano que vem (data a ser definida) em São Paulo, promete, pois, além de ser a 10ª edição, será o aniversário de 45 anos da Abrates. Mal posso esperar!

Não perca estes outros relatos:
O início, o fim e o e-mail, por Maíra Monteiro
Resumo do 1º dia do Congresso da ABRATES, por Rayza Ferreira (também há a 2ª e 3ª partes)
Diversidade e inclusão, pautas de toda profissão, por Carolina Walliter

Guest post: Os estudos de gênero e a tradução

Bem-vindos de volta a mais uma publicação convidada!

Hoje tenho o prazer de receber uma colega que faz um trabalho incrível e interessantíssimo com estudos de gênero. E é claro que eu não poderia deixar de convidá-la para escrever sobre isso aqui no blog, não é mesmo? Espero que gostem.

Seja bem-vinda, Graziele!

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Foto de Vanessa Serpas disponível em Unsplash

A tradução e os estudos de gênero: o papel político e cultural da linguagem

A questão de gênero tem sido um tema recorrente nos meios de comunicação em massa e mídias sociais recentemente. Temas como violência de gênero e feminicídio, assédio sexual, etc. cada vez mais ganham destaque e são alvos de muita discussão. A visita ao Brasil da filósofa norte-americana Judith Butler, referência no campo de estudos de gênero, é um exemplo dos impactos sociais deste debate. As acusações de pregação de uma suposta “ideologia de gênero”, dirigidas à filósofa, dão o tom de uma percepção moral que alguns setores da sociedade demonstram diante do debate de gênero. Partindo do princípio de que essa ideologia seria contrária a certos valores morais e tradicionais da família, esses setores, entre acusações e ameaças, causaram muita comoção e discussões calorosas sobre gênero. Mas afinal, o que é gênero e o que significa estudar gênero? E o que gênero tem a ver com tradução?

Os estudos de gênero nasceram muito próximos do movimento feminista nos Estados Unidos nos anos 1960, quando questões como o papel da mulher ganharam destaque. No entanto, é importante ressaltar que a questão de gênero não se restringe a feminino e masculino, mas também incorpora a transgressão de gênero, pessoas que não necessariamente se encaixam no binário mulher e homem. Portanto, ao tratar-se de problemáticas relacionadas a gênero, é fundamental ter em mente que ele não se restringe a questões relacionadas somente à mulher e ao homem.

O conceito gênero enquanto ferramenta analítica e de pesquisa amplia discussões relacionadas a política, cultura e sociedade no geral. Portanto, do ponto vista teórico, não se restringe a aspectos morais ou a opinião pessoal de pesquisadores e pesquisadoras. Ele parte do princípio de que gênero é uma construção social e, por isso, varia dependendo do contexto socioeconômico de cada sociedade. Sendo assim, a inserção de gênero enquanto categoria central da pesquisa abriu espaço para novas perguntas na produção acadêmica: como questões de feminidade e masculinidade são entendidas em cada sociedade? Como eles são perpetuados ao longo de gerações e quais as consequências? Como gênero, raça, classe, nacionalidade, religião, sexualidade, etc. se interseccionam? E como as configurações de poder são definidas nesse contexto? Como a globalização muda o entendimento e o significado de gênero?

Nesse sentido, a linguagem usada para responder a essas perguntas desempenha um papel extremamente crítico, ou seja, pode impactar, em alguma medida, as percepções que os sujeitos e grupos sociais naturalizam. Uma das questões mais proeminentes no campo é o uso de palavras neutras que rompam com o binário mulher e homem. Isso ocorre especialmente no caso de idiomas como o português, em que se costuma usar o gênero linguístico masculino para generalizar grupos. Essa escolha no atual contexto tem um significado político e cultural. Por muito tempo, a voz de grupos marginalizados na sociedade, como mulheres, homossexuais, negros, transgêneros, foi desconsiderada e/ou apagada da história, da ciência e da política. Por isso, existe um esforço de se repensar a linguagem e o que ela representa, dando espaço para que esses grupos escolham as palavras com as quais eles se identificam. Essa escolha, por mais simbólica que possa parecer, abre espaço para a discussão do significado e da escolha de determinado termo. Por exemplo, na minha dissertação do mestrado, eu escolhi usar a palavra “mulata” em vez de “mulato” ou ainda “mulatx/mulat@” quando eu me referia a essa categoria no geral, pois analisei diversas propagandas usadas para a promoção turística do Brasil, nas quais o corpo da mulher cisgênero foi usado extensivamente. Essa foi uma escolha pensada e que visou ressaltar e criticar a exploração de um grupo social específico nesse projeto.

A tradução desempenha um papel importante nesse contexto, impulsionada especialmente pelo transnacionalismo das instituições, sejam elas públicas e/ou privadas. Desse modo, e como já discutido muito na indústria, não basta apenas o conhecimento linguístico do idioma, mas também socioeconômico e cultural dos idiomas a serem traduzidos. Especialmente nas traduções de negócios, marketing e conteúdos sociais, localizar e adaptar o conteúdo para o público-alvo é um dos maiores desafios do tradutor de modo que o significado político da linguagem não seja ignorado. No campo da pesquisa, a tradução é fundamental para a realização de estudos envolvendo grupos sociais que não falam o mesmo idioma. Seja na coleta de dados ou na tradução de artigos científicos, a escolha dos termos usados deve ser pensada cuidadosamente, pois eles não necessariamente apresentam a mesma conotação, muitas vezes nem existindo em determinados contextos, podendo inclusive impactar o resultado de pesquisas científicas.

Por fim, o tradutor deve estar ciente de sua responsabilidade social, política e cultura na manutenção ou não de formas de pensamentos existentes. Pesquisar tem o potencial de evitar muitas dessas questões. Afinal, a tradução, assim como a linguagem, tem o poder de unir diferentes povos e abrir canais de comunicação antes não existentes.

Sobre a autora
picGraziele Grilo tem bacharelado em Ciências Políticas pela UNICAMP e acaba de concluir o mestrado em Estudos de Gênero pela Towson University (EUA). Sua dissertação foi na área de gênero, política, raça e turismo no Brasil. Também se interessa muito pela atual crise mundial de refugiados. Acaba de auxiliar na criação, além de participar ativamente, de um projeto com alunos de ensino médio refugiados da África e Oriente Médio, que visou utilizar as artes como meio de expressão e ativismo para esses alunos, em um contexto no qual o idioma pode ser barreira na comunicação. Atua como tradutora freelance desde 2012 nos idiomas português, inglês e espanhol. É torcedora do São Paulo Futebol Clube, ama Pearl Jam e se aventurar na cozinha.
Contato: trad.gragrilo@gmail.com
LinkedIn: Graziele Grilo

 

From ConVTI to you

We have agift for you!

Photo by rawpixel.com on Unsplash, edited on Canva

Português abaixo. Español abajo.

We’ve got gifts!

This blog and my translation podcast, TradTalk, were proudly chosen as the channels to officially launch ConVTI last month. Now the lovely organizers of this innovative event, Márcia Nabrzecki and Gio Lester, decided to kindly offer 1 free registration and a 20% discount to 10 of my followers as a sign of appreciation for our warm welcome. Isn’t that amazing?

If you missed the launch or does not even know what I am talking about, stop! Read about it here and feel free to watch/listen to the podcast interview (in Portuguese) here before proceeding. You can also visit the event’s website (link above) for more information. Also take the chance to connect with them on Facebook, Twitter, and YouTube.

Moving on to our lovely gifts…

Draw of 1 free registration

Fill out this brief form (also available on the bottom of this page) to join the draw. It’s that simple.

The draw will be held on August 14, 8 a.m. (EST). The lucky winner will be announced here on the blog, and the post will be shared on the event’s social media channels and mine.

20% discount to 10 followers

The first 10 followers who leave a comment below will win 20% of discount, paying only US$60. Ready, set, go!

Important: Should you be interested in the discount, leave a comment below even if you fill in the form for the draw and/or we reach 10 comments. Should the draw winner be one of the first 10 people to comment below, his/her discount will be transferred to the 11th commenter.

This is your chance to watch great talks by big names in translation, such as Paula Arturo, Jost Zetzsche, Kirti Vashee, Barry Olsen, from the comfort of your home sweet home (office) at a fraction of what you would spend with a usual conference. So don’t wait! Comment below and fill out the form.

Attention: You must be a translator, interpreter, dubber, subtitler, or other translation-related professional; or a student of any course related to any of these professions to participate. Comments and forms by random people will not be eligible to participate.

Good luck, dear followers!


Ganhamos presentes!

Como o Carol’s Adventures in Translation e meu podcast TradTalk foram os canais oficiais de lançamento do ConVTI, as queridas Márcia Nabrzecki e Gio Lester, organizadoras do evento, decidiram, em agradecimento, gentilmente oferecer 1 inscrição gratuita para o evento e 10 descontos de 20% para meus seguidores, vocês! Isso não é incrível?

Caso vocês tenham perdido a divulgação e nem saibam do que se trata, pare agora! Leia aqui a publicação (em inglês) no blog, assista/ouça aqui a entrevista que fiz com a Márcia para o podcast e acesse o site (link acima) para mais informações. Não deixe também de seguir o evento nas mídias sociais: Facebook, Twitter e YouTube.

Agora, sim, vamos ao que interessa: como participar.

Sorteio de uma inscrição gratuita

Para participar do sorteio, basta preencher este formulário (também disponível na parte inferior desta página) com seu nome, sobrenome e endereço de e-mail. É rápido e simples.

O sorteio será no dia 14 de agosto, às 9h (horário de Brasília). O ganhador será divulgado aqui no blog, e a publicação será compartilhada nas redes sociais minhas e do evento.

Desconto de 20% para 10 seguidores

É simples: os 10 primeiros seguidores que comentarem abaixo, aqui mesmo nesta publicação, ganharão um desconto de 20% no valor da inscrição, pagando apenas US$ 60,00 cada um. Valendo!

Importante: caso queira aproveitar o desconto, não deixe de comentar abaixo, mesmo se inscrevendo para o sorteio e/ou se atingirmos os 10 comentários. Caso o ganhador do sorteio seja um dos 10 primeiros a deixar um comentário, seu desconto será transferido para a 11ª pessoa que comentar.

Esta é sua chance de assistir a palestras incríveis de grandes nomes nacionais e internacionais da tradução, como Paula Arturo, Jost Zetzsche, Kirti Vashee, Barry Olsen, sem sair do conforto da sua casa ou do seu home office e economizando! Portanto, comente abaixo e preencha o formulário.

Atenção: é preciso ser tradutor, intérprete, dublador, legendador ou outro profissional relacionado à tradução; ou aluno de um curso relacionado a uma dessas profissões. Comentários e formulários de pessoas aleatórias não serão considerados.

Boa sorte, queridos!


¡Tenemos regalos!

Como Carol’s Adventures in Translation y mi podcast TradTalk fueron los canales oficiales de lanzamiento de ConVTI, las queridas Márcia Nabrzecki y Gio Lester, organizadoras del evento, decidieron amablemente ofrecer, como agradecimiento, 1 inscripción gratuita para el evento y 10 descuentos de 20% para mis seguidores: ¡ustedes! ¿No les parece increíble?

Si se perdieron la divulgación y no saben de qué se trata todo eso, ¡paren un minuto! Lean aquí la publicación (en inglés) del blog, vean/escuchen aquí la entrevista que le hice a Márcia para el podcast (en portugués) y visiten la página (link arriba) para obtener más información. Además, no dejen de seguir el evento en las redes sociales: Facebook, Twitter y YouTube.

Ahora sí, vamos a los que nos interesa: cómo participar.

Sorteo de una inscripción gratuita

Para participar en el sorteo, basta completar este formulario. Es rápido y fácil.

El sorteo será el día 14 de agosto, a las 9 h (hora de Brasilia). El ganador será anunciado aquí en el blog, y la publicación será compartida en mis redes sociales y las del evento.

20% de descuento para 10 seguidores

Es fácil: los 10 primeros seguidores que hagan un comentario abajo, aquí mismo en esta publicación, ganarán un 20% de descuento del valor de la inscripción, solo pagarán U$ 60,00 cada uno. ¡Ya empezó!

Importante: si quieres aprovechar el descuento, deja tu comentario aquí abajo, aunque también te inscribas para el sorteo y/o lleguemos a los 10 comentarios. Si el ganador del sorteo es uno de los 10 primeros que dejan un comentario, el descuento será transferido al 11º que haya comentado.

Es tu oportunidad para ver ponencias increíbles de grandes nombres nacionales e internacionales de la traducción, como Paula Arturo, Jost Zetzsche, Kirti Vashee, Barry Olsen, ¡sin salir de la comodidad de tu casa o tu home office y ahorrando! Así que, deja tu comentario aquí abajo y completa el formulario.

Atención: es necesario ser traductor, intérprete, doblador, subtitulador o profesional relacionado con la traducción; o alumno de algún curso relacionado con una de estas profesiones. Los comentarios y formularios de personas ajenas al sector no serán considerados.

¡Buena suerte, queridos!

 

Guest post: Paixão pela tradução

Sejam bem-vindos de volta, queridos leitores!

A ordem das publicações foi trocada este mês. Não se preocupem! A série de entrevistas Greatest Women in Translation será publicada na próxima segunda-feira, dia 10. 😉

Hoje tenho a honra de receber uma pessoa querida que acabou se tornando uma grande amiga. Seguidora assídua do blog, tive o prazer de conhecê-la pessoalmente no ano passado. Além de ser uma pessoa incrível, de coração imenso, é também, como é de se esperar de pessoas incríveis, uma profissional competentíssima, apaixonada pela tradução.

Seja bem-vinda, Sil!

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Fonte: Unsplash

Sobre a alegria de estudar e trabalhar com o que se gosta

Bom, este não é um texto sobre especificidades da tradução, mas sobre a paixão que todos têm (ou passam a ter) quando se envolvem com essa área. Quando a Caroline me convidou para escrever, eu já era leitora assídua aqui do blog desde 2014. Foi quando a conheci na Semana do Tradutor da UNESP, uma das melhores edições do evento, em minha opinião! Por isso, eu fiquei um pouco insegura, porque não atuo como freelance há algum tempo e acabaria sendo mais emocional do que profissional. Mas, inspirada no post da Giulia Carletti, Translation lets you be everything you want to be, aceitei o convite, e este é um post sobre como a tradução me motiva e me faz feliz.

Quando terminei a graduação em Letras nos anos 90, não se ouvia falar sobre tradução na universidade, e eu também não sabia que gostava da área e nem que podia estudá-la. Como eu não me encaixava nas linhas de pesquisa oferecidas no mestrado, decidi me dedicar às aulas como professora de inglês. Mas, lembro-me de várias situações em que eu tentava convencer algum aluno de que aquela frase do resumo ficaria muito literal no abstract e perderia o sentido se fosse traduzida como ele queria ou ainda que a letra daquela música não teria sentido se não invertêssemos a estrutura da frase. Era difícil convencer os alunos, mas eu amava estar ali, tentando explicar tudo isso.

Alguns anos depois, mudei-me para Florianópolis e decidi voltar a estudar. Fui pra UFSC. Procurando alguma linha de pesquisa que me motivasse, soube que iria abrir um programa de pós-graduação em estudos da tradução – a PGET. Lembro como se fosse hoje quando eu falei: “Tradução! É isso!” Era o que eu queria fazer. Eu já trabalhava como freelance para uma agência e estudar o que eu tinha como profissão era tudo o que eu queria! Amei cada minuto na PGET porque a tradução me completava e encantava e me fascinava cada dia mais.

Hoje sou professora em um curso de licenciatura em letras e meu objetivo maior tem sido compartilhar com os alunos o que é traduzir e ser tradutor. Digo isso porque muitos deles, apesar de o curso ter como foco a formação docente, acabam atuando como tradutores (e até intérpretes) sem ter conhecimento da profissão. Já outros dizem que a tradução não agrega nada à carreira docente. No entanto, a tradução está presente em muitos momentos em sala de aula: muitos tradutores também são professores, e uma profissão não exclui a outra.

Mas sou insistente. Compartilho questões da prática, mercado, blogs, sites, exercícios, teorias, enfim, questões que eu sei que farão a diferença em algum momento da vida deles. Para os que são flexíveis a ponto de encarar o desafio de estudar e praticar tradução, os resultados têm sido bastante positivos: alguns TCCs já defendidos, um encontro anual sobre tradução, promovo palestras com tradutores nas aulas, um grupo de pesquisa, pequenos projetos de tradução em sala… E tudo o que eu espero são alunos mais conscientes sobre o papel e a singularidade do ato de traduzir. Tudo isso me traz uma única certeza: a tradução foi e é a melhor escolha que eu poderia ter feito pra mim. E assim se faz o caminho, ao andar, como diria o poeta Antônio Machado: sigo como tradutora voluntária, professora e admiradora dos amigos e colegas que fazem da tradução um caminho real e possível.

Sobre a autora
silSilvana Ayub é graduada em letras, artes plásticas e comércio exterior. Tem pós-graduação em estudos da tradução pela PGET–UFSC. Já foi freelance, hoje é voluntária. Queria ser comissária, mas, por ser baixinha, não conseguiu. Queria ser arquiteta, mas a matemática sumiu. É 50% curitibana e 50% florianopolitana, professora de inglês e tradução em Curitiba. Gosta de culinária e aprecia um bom café e uma boa conversa. Desistiu do Facebook e não se arrepende, mas responde a e-mails com relativa rapidez. Pode escrever, se quiser: sil-in-sc@uol.com.br

Tradução como ferramenta de ensino

Sejam bem-vindos de volta, queridos leitores!

Hoje temos mais uma tradução parte da parceria do blog com a UTFPR. Esta é a segunda tradução da aluna deste mês, a Débora França de Oliveira. E a tradução de hoje é da publicação da convidada Tammy Bjelland, Translation as a teaching tool.

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Fonte da imagem: Unsplash

A tradução é um assunto que pode ser controverso quando se trata do ensino de línguas, mas como professora de idiomas, alguns dos melhores e inesquecíveis momentos pedagógicos vieram com o uso da tradução no ensino.

O uso da tradução em sala de aula com turmas de nível básico a intermediário é contraprodutivo, pois faz com que os alunos acreditem que toda língua tem uma palavra ou ideia equivalente em sua língua de destino, o que todo tradutor (e professor de idiomas!) sabe que está longe de ser verdade. Porém, pode ser difícil evitar completamente a tradução com alunos de níveis iniciais, especialmente quando se trata de adultos, visto que já são capazes de se expressar empregando um vocabulário mais sofisticado. Demonstrar os problemas que uma tradução mais “literal” pode causar pode ser uma boa ferramenta de ensino em níveis básicos e intermediários, para indicar não apenas a complexidade das L1 e L2, mas também a importância de entender o contexto e a cultura, juntamente à gramática e ao léxico das duas línguas.

Os benefícios pedagógicos da tradução são ainda mais significativos em níveis avançados, como ferramenta para explorar as complexibilidades da língua e da cultura de textos que variam em tipo, perspectiva e propósito. Muitas das minhas memórias como professora universitária vêm do ensino da tradução em turmas nos EUA e na Espanha. Após alcançar certo nível de proficiência dos alunos, aulas dedicadas à tradução podem mostrar não só o processo de tradução em si, mas também orienta os alunos a se aprofundar mais no significado das palavras e ideias, além da diversidade de interpretação em vários níveis e estágios de compreensão e tradução.

Um tipo de texto que funcionou muito bem para demonstrar a diversidade de interpretação foram pequenos textos literários. Poemas e contos foram ideais, principalmente quando tínhamos acesso a uma série de traduções diferentes para o mesmo texto. Ao estudar várias traduções profissionais de um mesmo texto, os alunos podem apontar quais ideias foram interpretadas de maneiras diferentes e trabalhar de trás para frente para encontrar uma melhor forma de entendimento do contexto e do significado do texto em si. Esse exercício em si já confirma que a simples pergunta “O que esta palavra significa na língua _____?” pode ser bastante problemática e não deve ser o foco de nenhuma aula de língua. Pensar na comparação direta entre duas línguas nos leva a uma simplificação excessiva e a pular lacunas de significado, dois erros comuns que podem ser suavizados utilizando cuidadosamente a tradução como abordagem pedagógica.

Além do valioso aprendizado sobre a diversidade de interpretações e complexidade das línguas, a tradução como ferramenta pedagógica confere aos alunos as habilidades necessárias para traduzir efetivamente. Quando atividades como a que citei são utilizadas em sala de aula, normalmente, é a primeira vez que os alunos veem e analisam, lado a lado, textos traduzidos profissionalmente comparados com o texto fonte. Essa é uma oportunidade única para o professor apresentar o profissional por trás da tradução e discutir os requisitos e desafios que fazem parte da área da tradução.

Portanto, enquanto alguns professores de língua ainda temem o uso da tradução em suas aulas, na minha experiência, há vários benefícios ao incorporar a tradução em turmas de adultos de nível avançado. Uma atividade bem planejada utilizando a tradução pode aprofundar a compreensão das línguas, promovendo a valorização de opiniões e interpretações diferentes, além de educar os alunos sobre a profissão de tradutor.

Sobre a tradutora
Foto_DeboraDébora França de Oliveira
é estudante de Letras – Português e Inglês na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Apaixonada pela língua inglesa. Tem grande interesse na área da tradução.