Eu, a tradução e a área da saúde: uma história de amor

Bem-vindos! Sei que ando em falta com vocês, mas espero conseguir me redimir com esta novidade! É com imenso prazer que lanço uma parceria do blog com o grupo de pesquisa de tradução da UTFPR e a queridíssima Profa. Silvana Ayub!

O projeto de pesquisa “Traduzindo a tradução” é conduzido pelo grupo de pesquisa TradLin (Tradução e Línguas) da UTFPR, sob orientação da Profa. Silvana Ayub, e conta  com licenciandos em letras português e inglês que se interessam  pelo universo tradutório. Seu objetivo é oportunizar aos alunos a prática tradutória por meio de textos que envolvem questões sobre a profissão, o profissional tradutor e suas escolhas, decisões, ações e competências. Todo o material traduzido é constituído por textos publicados aqui no blog, selecionados e gentilmente cedidos pela Caroline Alberoni. As atividades práticas enfatizam o emprego e análise de estratégias tradutórias, registro de protocolos verbais, proofreading, estudos e análise sobre o processo de produção textual e representações culturais. Os resultados práticos envolvem encontros anuais, locais, para falar de tradução e muita gente que se descobre apaixonada pela área!

Neste mês de abril, publicarei duas traduções da aluna Gabriella Strapasson, a primeira, hoje, da convidada Carolina Ventura, Me, my translations and the Public Health field: a love story, e a segunda, em alguns dias. Também teremos mais duas traduções nos meses de maio e junho.

Espero que gostem!

Agradeço imensamente à Profa. Silvana Ayub a honra de fazer parte desse projeto de pesquisa e a tradução das publicações do inglês para o português.

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Antes de mais nada, gostaria de agradecer à minha amiga e colega tradutora Caroline Alberoni pela oportunidade de compartilhar minha experiência com vocês. Esta é a primeira vez que faço algo desse tipo e posso dizer que estou curtindo cada momento, pois ESCREVER em vez de TRADUZIR é muito bom para dar uma variada no trabalho.

Decidi ser tradutora quando tinha 20 anos. Em 1991, no primeiro ano do curso de graduação em biologia da Universidade de São Paulo (USP), compreendi o motivo de estar tão descontente desde o início do curso: eu tinha feito a escolha errada.

Eu não queria ser bióloga. Eu queria estudar línguas. Na verdade, queria continuar estudando inglês como fiz nos últimos dez anos em uma escola particular de idiomas. Mas não queria ser professora e, sim, tradutora. Então, larguei o curso de biologia e, em 1992, comecei a graduação em Língua Inglesa e Literatura na PUC-SP. Me formei em tradução e, nesses 20 anos de trabalho, nunca mais tive dúvidas a respeito dessa minha decisão.

Posso dizer que escolhi a minha carreira, mas o campo de especialização me escolheu. No primeiro ano da faculdade, meu pai, professor do departamento de saúde da USP, perguntou se eu poderia traduzir para o inglês o artigo de uma colega professora para publicação em uma revista internacional.

Aceitei o desafio, a autora gostou do resultado e então ela e meu pai começaram a me indicar sempre que uma oportunidade surgia. Dizem que indicação boca a boca é mais eficiente do que propaganda, e eu concordo plenamente.

O interessante é que, desde o começo da carreira, a direção da tradução também me escolheu: 99% das traduções que faço são do português para o inglês e 1% do inglês para o português.

Portanto, traduzo artigos acadêmicos da área da saúde do português para o inglês há 20 anos. Você deve se perguntar: “Você não se cansa?”. Não!

Dentro dessa área, você traduz um artigo a respeito da mortalidade perinatal nos hospitais de São Paulo em um dia, noutro, um estudo sobre o tratamento da malária em mulheres grávidas da região amazônica e, no final da semana, outro artigo acerca das contribuições da medicina antroposófica para a integralidade da formação médica.

Além de aprimorar o conhecimento sobre um tema que me interessa (afinal de contas, não teria escolhido biologia se não gostasse de ciências da saúde), gosto de contribuir para a visibilidade internacional da pesquisa brasileira. Gosto de imaginar o papel que desempenho quando artigos sobre as conquistas (e também os fracassos) do Brasil na área da saúde são publicados em revistas internacionais.

Traduzo também outros tipos de textos, principalmente nas áreas de educação, linguística aplicada, comunicação e administração. Essa variedade de assuntos faz com que não me sinta entediada, porém, nada me dá mais prazer do que traduzir um artigo da área da saúde.

Quando trabalho com textos de outras áreas, passo muito tempo pesquisando antes de começar a traduzir, mas quando traduzo um texto sobre saúde, tudo o que faço é sentar, ligar o computador e traduzir! Presto serviços para dois tipos de clientes, sempre como freelancer: pessoas que desejam enviar seus artigos para publicação em revistas internacionais e revistas científicas que têm suas próprias equipes de tradutores.

Nos últimos anos, tenho trabalhado regularmente para seis revistas brasileiras, nos seguintes temas: saúde, educação e comunicação; enfermagem; saúde e atividade física; crescimento e desenvolvimento humano; administração de empresas; e, cidades e metrópoles brasileiras. O pagamento é feito de três maneiras: os autores dos artigos me pagam diretamente pela tradução; a revista é bilíngue e paga pelas traduções; a revista e o autor pagam 50% do custo cada. Infelizmente, os pagamentos feitos pela instituição responsável pelas revistas podem levar muito mais tempo do que o esperado. Mas, quem disse que seria sempre um mar de rosas?

Se eu uso algumas ferramenta CAT? Até agora, não! Como esse é um assunto atual, me sinto na obrigação de abordá-lo.

Já fiz alguns cursos, porém, não as utilizo porque traduzir artigos implica em respeitar o estilo acadêmico, o estilo da área (por exemplo, artigos da área da saúde são escritos de uma maneira diferente daqueles da linguística aplicada, tantos em relação ao estilo quanto de jargão) e, ainda, o estilo idiossincrático do autor. Dentro desse contexto, penso que as ferramentas CAT não sejam muito úteis.

Além disso, meus serviços não são contratados por agências, ou seja, não preciso entregar memórias de tradução, nem nada similar. Perguntei para alguns colegas que trabalham comigo nessas revistas e eles também não acreditam que seja necessário usar essas ferramentas. Nenhum cliente nos pediu para traduzir seus artigos usando o TRADOS ou memoQ. Por enquanto, nosso trabalho pode continuar a ser como o de um “artesão das palavras” e acredito que o Google Tradutor não substituirá nosso trabalho tão cedo. É claro, a necessidade é a mãe das invenções e é mais do que provável que logo tenhamos que nos adaptar a essa nova realidade.

Bem, essa é a “história de amor” que eu queria compartilhar com vocês! Espero que tenham gostado e fiquem à vontade para postar qualquer dúvida ou comentário.

Sobre a tradutora
GabriellaGabriella Strapasson é formada em Licenciatura em Letras Português/Inglês (UTFPR). Trabalha como tradutora in-house há seis meses com o par inglês > português e também é professora de inglês. Faz pós-graduação em Tradução de Inglês na Estácio de Sá e está se especializando nas áreas de Finanças, TI e Jurídica. É integrante do TradLin – UTFPR, um grupo de pesquisa sobre Estudos da Tradução. Reside em Curitiba-PR e pode ser encontrada no Facebook e LinkedIn.

5 thoughts on “Eu, a tradução e a área da saúde: uma história de amor

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