Guest post: Tradução do português para o espanhol

Sejam bem-vindos de volta a mais uma publicação de convidado!

Hoje, recebo a Sonia Rodríguez Mella, do blog Traducir Portugués e tradutora de espanhol e português.

10 erros comuns de tradução do português para o espanhol

Antes de mais nada, muito obrigada por ter me convidado para participar do seu blog. Para mim, é realmente uma honra.

Como você sabe, sou uma apaixonada pela língua “brasileira”.

Na Argentina, trabalho muito como tradutora e revisora dos pares espanhol <> português e gostaria de compartilhar com você e seus seguidores minha experiência, o que eu aprendi como revisora de espanhol.

Ninguém deseja enganar na hora de fazer uma tradução, mas o tradutor é um ser humano, portanto, não é perfeito. Sempre pode haver algum errinho em seu trabalho e, por isso, as traduções devem ser revisadas, sempre.

Os erros que eu vejo com frequência quando reviso traduções do português para o espanhol são de diferentes tipos. Realizei aqui, em decorrência disso, uma pequena seleção:

1) USO DA PREPOSIÇÃO A

O uso de preposições é difícil tanto em espanhol quanto em português. Sempre é bom ter por perto uma boa gramática e ler muitos textos de bons autores para consolidar de forma consistente o conhecimento.

O mundo das preposições, por si só, levaria à escrita de, pelo menos, um artigo, ou inclusive um livro dedicado ao tema. É por isso que aqui vou dar apenas alguns exemplos:

Encontrei Alicia na porta do cinema.
Incorreto: Encontré Alicia en la puerta del shopping.
Correto: Encontré a Alicia en la puerta del shopping.

Vou estudar português.
Incorreto: Voy estudiar portugués.
Correto: Voy a estudiar portugués.

Ela tem um filho doente.
Incorreto: Ella tiene un hijo enfermo.
Correto: Ella tiene a un hijo enfermo. (Doenças são consideradas passageiras.)

Ela tem um filho cego.
Incorreto: Ella tiene a un hijo ciego.
Correto: Ella tiene un hijo ciego. (A cegueira é permanente.)

2) PRONOME RELATIVO E CONJUNÇÃO QUE

Estes são erros que os nativos também cometem.

No primeiro caso, na verdade, o gerúndio não está bem usado e, portanto, a escrita certa exige o uso do pronome relativo que. No segundo caso, trata-se da conjunção que.

Neste caso, o uso do gerúndio não é correto:

Ele devolveu uma carteira contendo todos os documentos.
Incorreto: Él devolvió una billetera conteniendo todos los documentos.
Correto: Él devolvió una billetera que contenía todos los documentos.

Ela tinha certeza de que não passaria na prova.
Incorreto: Ella estaba segura que no aprobaría el examen.
Correto: Ella estaba segura de que no aprobaría el examen.

3) TRADUZIR “MUITO” POR MUCHO (SEMPRE)

Em espanhol, a palavra “muito(a)” pode ser traduzida como muy ou como mucho(a), dependendo da construção da frase.

Muy: antes de adjetivos e advérbios.
Mucho(a): antes de substantivo singular e depois de verbo.

Atenção! Há exceções…

Mucho é usado:

  • antes dos advérbios: antes, después, más e menos.
  • antes dos adjetivos: mejor, peor, menor e mayor.

Exemplos:

Ella es muy linda.
Él llegó muy tarde.
La traductora sabe mucho.
El traductor llegó mucho antes.
Este diccionario es mucho mejor que el anterior.

4) USO INCORRETO DO HÍFEN

Em português, o hífen é muito usado, mas, no espanhol, as regras de uso do hífen são muito diferentes.

América Latina para os latino-americanos.
Incorreto: América Latina para los latino-americanos.
Correto: América Latina para los latinoamericanos.

Conclusão de uma metanálise publicada em janeiro.
Incorreto: Conclusión de un meta-análisis publicado en enero.
Correto: Conclusión de un metaanálisis/metanálisis publicado en enero.

Nesse último caso, por exemplo, trata-se de uma palavra que o DRAE não registra. Porém, o dicionário de Fernando Navarro inclui apenas “metanálise”, mas a Fundéu aceita as duas formas.

5) ACENTUAÇÃO DE MONOSSÍLABOS

Em português, os monossílabos tônicos são sempre acentuados, mas, no espanhol, de modo   geral, os tônicos e os átonos não são acentuados, exceto nos casos de acento diferencial:

Termo Classificação Termo Classificação
De Preposição (de) Verbo (dê)
El Artigo (o) Él Pronome (ele)
Mas Conjunção (mas) Más Advérbio, adjetivo ou pronome; conjunção (mais)
Mi Adjetivo possessivo (meu) Pronome pessoal (mim)
Se Pronome (se) Verbo (sei)
Si Conjunção (se) Advérbio (sim)
Te Pronome (te, lhe) Substantivo (chá)
Tu Possessivo (teu, seu) Pronome pessoal (tu)

Também são acentuados os monossílabos posicionados entre sinais de interrogação e admiração.

Exemplos:

¿Qué hora es?
¿Cuál quiere?
¿Cuán grande era?
¿Quién era?

6) USO DO SINAL DE PORCENTAGEM

Em português, o sinal de porcentagem vem depois do número, sem espaço. Em espanhol, entre o número e o sinal de porcentagem deve ter um espaço: 20 %. Só não tem espaço se for o caso do espanhol dos EUA.

7) ABUSO DA VOZ PASSIVA

Em português, usa-se muito a voz passiva, mas, em espanhol, ela deve ser evitada.

Nessa loja, são vendidos os bolos mais gostosos de SP.
Incorreto: En esa tienda son vendidas las tortas más ricas de São Paulo.
Correto: En esa tienda se venden las tortas más ricas de São Paulo.

8) FORMATO DAS HORAS

Em espanhol, as horas são escritas de diferente forma, dependendo do local.

Espanhol da América Latina (LA), da Espanha, internacional (XL) e da Argentina:

10:00 h – 22:00 h

Espanhol do México (MX) e dos EUA:

10 a. m. – 10 p. m. (com espaço)

9) FORMATO DOS NÚMEROS

Em espanhol, os números são escritos de diferente forma, dependendo do local.

Espanhol da América Latina (LA), da Espanha, internacional (XL) e da Argentina:

  • Quatro dígitos: sem vírgula, por exemplo, 1000
  • Mais de quatro dígitos: com espaço, por exemplo, 10 000
  • Uso de decimais: com vírgula, por exemplo, 0,75

Espanhol do México (MX) e dos EUA:

  • Quatro dígitos: sem vírgula, por exemplo, 1,000
  • Mais de quatro dígitos: com espaço, por exemplo, 10,000
  • Uso de decimais: com vírgula, por exemplo, 0.75

10) ARTIGO ANTES DE NOMES DE EMPRESAS

Em português, é habitual o uso do artigo antes do nome de uma empresa. Isso não ocorre em espanhol.

A Odebrecht foi responsável pela construção do edifício.
Incorreto: La Odebrecht fue responsable de la construcción del edificio.
Correto: Odebrecht fue responsable de la construcción del edificio.

Tudo tem um limite; por isso, registrei apenas dez tipos de erros, mas a lista é muito maior.

Espero que você tenha gostado e que seja útil para os tradutores que seguem você nas redes.

Mais uma vez, muito obrigada por ter me dado esta oportunidade.

Sobre a autora
foto soniaSonia Rodríguez Mella é contadora, tradutora de português e autora do Diccionario ACME Español-Portugués/Portugués-Español, publicado pela Editorial Acme Agency, da Argentina, e supervisionado pela Editora Nova Fronteira, do Brasil. Trabalha de forma autônoma desde 1993. Antes dividia seu tempo entre as duas profissões, mas, em 2005, decidiu dedicar todos os seus esforços à área de tradução. Em 2010, criou o blog www.traducirportugues.com.ar e mantém uma página no Facebook, Traducciones de Portugués, que está atingindo os 9.000 seguidores. No blog e nas redes, ela transmite regularmente suas experiências relacionadas com os idiomas espanhol e português. Em 2017 e 2018, participou do Congresso Internacional da Abrates, associação da qual é membro.

Guest post: Tradutor de português no exterior

Sejam bem-vindos de volta a mais uma publicação de convidado!

Hoje, recebo o Fabio Said, tradutor de português e alemão residente na Alemanha, que contará como foi conquistar o mercado alemão e como é trabalhar com português morando fora do país.

trajetoria-como-tradutor-de-portugues-na-alemanha

Fonte: Pixabay

Trajetória como tradutor de português na Alemanha

Quando saí do Brasil e transferi minha atividade profissional de tradutor para a Alemanha, eu já tinha 14 anos de experiência no mercado, trabalhando sobretudo para clientes diretos, inclusive alemães. Além disso, já tinha uma noção clara da mentalidade cultural do meu novo país, pois a mudança não foi repentina. Porém, devido a circunstâncias de mercado e a uma vontade constante de me aperfeiçoar, meu perfil como tradutor de português é, hoje, bem diferente daquele que eu tinha no Brasil. Abaixo contarei um pouco sobre como foi essa trajetória.

Primeira fase: retenção de clientes no Brasil

Nos primeiros anos de minha nova vida na Alemanha, continuei trabalhando para clientes localizados no Brasil. Seria um grande erro descartar os bons contatos e o fluxo de renda conquistado a duras penas no Brasil. A tradução editorial me pareceu ser a área de atuação ideal para essa continuidade, pois o tradutor de livros não precisa estar no mesmo país da editora. Morar na Alemanha e traduzir para editoras brasileiras só foi possível porque mantive conta bancária no Brasil, além de meu CPF brasileiro.

Outro grupo de clientes que possibilitaram minha sobrevivência profissional no novo país foram as agências. Na época, eu trabalhava com algumas agências dos Estados Unidos e Áustria, que não tinham a mesma burocracia das agências brasileiras, além de pagarem tarifas bem melhores.

Segunda fase: foco internacional

As coisas começaram a mudar por volta da segunda metade de 2008, quando a crise financeira estava assumindo proporções mundiais e, aparentemente, os grandes bancos da área de gestão de ativos estavam procurando incrementar sua comunicação com clientes de alto poder aquisitivo investindo mais pesadamente na tradução de materiais de marketing financeiro. Notei que diversas agências internacionais com foco em tradução financeira e corporativa estavam em busca de tradutores e fui aceito por algumas delas. Também fazia muitas traduções de Engenharia Industrial e Gestão da Qualidade, que, na época, ainda estavam entre minhas áreas de especialização. Em pouco tempo, o fluxo de trabalho já era tão bom que me permitiu encerrar os negócios com clientes do Brasil, a começar pelas editoras.

É bom lembrar que o real ainda não estava tão desvalorizado, mas eu definitivamente não tinha a intenção de continuar ganhando em reais para gastar em euros – pagando taxas de câmbio exorbitantes toda vez que sacava dinheiro da minha conta brasileira. Esse é, a meu ver, um dos grandes problemas de profissionais que mudam de país mantendo vínculos financeiros com o país de origem. Além da diferença cambial, há ainda o fator tributário, pois quanto mais vínculos financeiros o profissional mantém com o país de origem, mais complicada se torna a burocracia com a declaração do imposto de renda no novo país.

Nessa minha fase “internacional”, também me dediquei bastante à construção de relacionamentos com o mercado de tradução global, por meio de associações de tradutores, mídias sociais e congressos. Meu antigo blog trilíngue de tradução, o “Fidus Interpres”, foi criado nessa época, dando origem a um livro de mesmo nome. Foi um período de muito aprendizado e troca de experiências. É sempre bom ampliar os horizontes e conhecer perspectivas diferentes – e isso só é possível quando você investe em networking.

Terceira fase: “local is the new global

Com o tempo, trabalhar para agências de tradução internacionais e cada vez menos para clientes diretos já não me trazia tanta satisfação em termos pessoais e intelectuais. O fluxo de renda era bom, mas o ritmo era intenso demais, com condições de trabalho cada vez mais desinteressantes, e eu quase não tinha contato com as pessoas que realmente usariam minhas traduções (afinal, agências são intermediários). Estava na hora de mudar de foco.

O caminho natural foi voltar a atuar na tradução juramentada. Nessa área, na qual eu havia trabalhado durante vários anos no Brasil, como assistente de um tradutor juramentado e depois como juramentado ad hoc, é possível ter um contato maior com os usuários das traduções, aprendendo sobre suas histórias de vida e percebendo imediatamente o benefício que meu trabalho traz para eles. Além disso, minha segunda principal área de trabalho na época era a tradução jurídica, além da financeira, e eu ainda tinha meu grande banco de dados de traduções juramentadas e de terminologia jurídica construído no Brasil, de modo que poderia tirar um bom proveito desse material como tradutor juramentado na Alemanha.

Para cumprir os requisitos legais e obter o título de Tradutor Público e Juramentado em três estados na Alemanha, tive de fazer um curso e prova de linguagem jurídica alemã e obter uma qualificação adicional como tradutor de acordo com o sistema educacional alemão. O título em si não garante nada, pois os tradutores juramentados da Alemanha não têm uma “reserva de mercado” e precisam lutar muito, em razão da concorrência brutal, para conquistar cada cliente. Felizmente, fui bem aceito pelo mercado alemão de tradução juramentada, sobretudo pela comunidade de imigrantes brasileiros, e em 6 anos conquistei mais de 1.200 clientes, sendo que muitos deles retornam com novos trabalhos.

Minha intenção era traduzir sobretudo do alemão para o português, minha língua materna. Porém, devido à burocracia brasileira, traduções juramentadas para o português feitas em outros países geralmente não são aceitas no Brasil. Dessa forma, passei a traduzir mais e mais do português para o alemão. E gostei. Gostei tanto que passei a investir mais em seminários e cursos de aperfeiçoamento em linguagem jurídica alemã, organizados pela associação alemã de tradutores BDÜ, da qual sou associado. Hoje, cerca de 85% dos meus rendimentos são com tradução juramentada; destas, 90% são em alemão (jurídico), para uso exclusivamente no território da Alemanha. Além disso, somente aceito pagamentos na moeda do meu país (euros). Minha empresa não tem mais conta bancária no Brasil e trabalha quase sempre para clientes locais. Meus vínculos com o Brasil e com a língua portuguesa são mantidos, claro, pelas vias de sempre (viagens, leituras), mas no plano profissional faz mais sentido investir 100% no novo país do que manter “um pé aqui e outro lá”.

Para alguns, esse foco local pode parecer temerário. Por outro lado, para citar um bordão muito frequente entre analistas da globalização, “local is the new global”. De qualquer forma, saber se adaptar às circunstâncias e aproveitar oportunidades é uma questão de sobrevivência profissional.

Sobre o autor
fabiosaid

Fabio Said é tradutor de inglês desde 1993 e de alemão desde 1999, especializado em linguagem jurídica e financeira. Vive na Alemanha desde 2007, onde é Tradutor Público e Juramentado de português-alemão e mantém a empresa de tradução “Lingua Brasilis Übersetzungsbüro Fabio Said”. É autor do livro “Guia do tradutor: melhores práticas” (2013). Twitter: @fabiomsaid

Guest post: Português e suas variantes

Sejam bem-vindos de volta a mais uma publicação convidada, queridos leitores!

Hoje, tenho o prazer de receber uma colega que divide a variante do português do outro lado do oceano, a portuguesa Tina Duarte.

Seja bem-vinda, Tina!

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Imagem fornecida pela autora

De braço dado

Não me recordo exactamente que idade tinha quando peguei pela primeira vez num livro de Jorge Amado, que me condenou a uma paixão eterna por um universo de personagens tão ricas e com tantos matizes, e pela forma, ora doce, ora crua, como as palavras tão bem desenhavam a história, mas creio que teria uns treze anos. Nessa altura, já conhecia Jorge Amado de nome, lembrava-me vagamente da Gabriela e do Seu Nacib[1] na televisão e já me tinha deixado encantar pelo “português com açúcar[2]” das histórias infantis de um disco de vinil, que uma amiga da família tinha trazido do Brasil, e que eu ouvia sempre com muita atenção, sentada ao lado do gira-discos.

Cresci e aqueles livros e aquelas personagens abriram a porta a um mundo desconhecido, que me fez querer conhecer escritores, cantores, músicos e artistas brasileiros. Para além da perspectiva diferente que uma cultura distinta da nossa nos garante, havia sempre a possibilidade de apreciar a língua, a forma como do outro lado do Atlântico se desconstruíam e verbalizavam emoções, se descreviam situações e realidades. Este gosto muito particular, hoje aliado ao exercício da minha actividade como tradutora, prevalece e continuo atenta à evolução e às diferenças que estas duas variantes da língua apresentam.

A língua portuguesa levada ao Brasil, a países africanos e regiões asiáticas por conta da expansão do território de Portugal, durante os Descobrimentos, tem 273 milhões de falantes, é língua oficial de nove países e uma região administrativa especial, sendo o Brasil o que regista um maior número de habitantes, tornando assim incontornável o seu contributo para a divulgação e importância da língua ao longo dos anos.

Esta nossa língua regista diferenças significativas entre o Português que se fala em Portugal e o Português que se fala no Brasil, quer a nível de ortografia, fonética, semântica, sintaxe e morfologia. Na base dessas diferenças, coexistem as diferentes influências que a língua foi absorvendo de um lado e do outro. Assim, denotamos a existência de inúmeros vocábulos derivados da língua tupi e o predomínio exercido pelo inglês (por proximidade geográfica aos Estados Unidos) no Português do Brasil, ao passo que, do lado de cá do Atlântico, será mais forte a influência de outras línguas românicas. A compreensão entre falantes portugueses e brasileiros não é certamente impossível, mas a comunicação formal, pela sua formulação mais estática e convencionada, será sempre mais facilitada do que uma conversação entre um português e um brasileiro que habitualmente não tenham contacto com a outra variante da língua.

Considero que a ideia veiculada por algumas pessoas da possibilidade de existência de um Português Universal, e que seria até uma das justificações para o Acordo Ortográfico de 1990 por se tratar de uma forma de unificação da língua, está totalmente desadequada da realidade. Estamos perante duas variantes da língua muito diferentes e que não apresentam qualquer tendência a, de alguma forma, convergirem.

Penso com frequência em imagens que ilustrariam o que são actualmente o Português de Portugal e o Português do Brasil: a de um jardineiro que plantou duas sementes de árvores iguais, em terrenos diferentes e deixou que crescessem, espraiassem os seus ramos e criassem os seus frutos, todos diferentes e, no fundo, todos iguais. Ou a de uma mãe que deu o braço à sua filha, jovem adulta, e ajudou-a a sair da sua cidade e a instalar-se numa outra cidade do outro lado do rio. Têm personalidades diferentes, vivem as suas vidas, seguem e absorvem tendências distintas, amadurecem e, no entanto, o laço que as une é indestrutível e inegável.

[1] Gabriela foi a primeira novela a ser transmitida em Portugal, em 1977, três anos após a Revolução do 25 de Abril, que pôs fim a mais de 40 anos de ditadura em Portugal.

[2] Termo que o escritor português Eça de Queirós terá utilizado para designar o Português falado e escrito no Brasil.

Sobre a autora
cópia_foto_out2016AZd_0751 (4)Licenciada em Tradução, Tina Duarte trabalha como tradutora freelancer desde 2006. Sócia e membro da Direcção da APTRAD – Associação Portuguesa de Tradutores e Intérpretes. Trabalhou anteriormente na área da exportação, deu aulas de inglês a adultos e foi fundadora e dinamizadora de uma organização relacionada com a defesa do património natural e construído.

Dia da Língua Portuguesa

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Surpresa! Estava eu procurando links para publicar nas redes sociais sobre o Dia da Língua Portuguesa e a língua portuguesa em geral, mas tem tanta coisa legal que resolvi juntar tudo em um só lugar. Embora eu estivesse adorando a ideia de encher a linha do tempo de vocês de links e não deixar ninguém trabalhar hoje… 🙂

Bom, quem curte a minha página do Facebook e/ou me segue no Twitter, já sabe que hoje é Dia da Língua Portuguesa. A data foi instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2009. Especificamente no Brasil, dia 5 de novembro foi a data instituída em 2006 pelo presidente Lula como Dia Nacional da Língua Portuguesa. A data foi escolhida por se tratar do dia de nascimento de Ruy Barbosa, estudioso da língua portuguesa no Brasil. Já em Portugal, a data comemorada nacionalmente é 10 de junho (instituída em 1981), em homenagem ao icônico poeta Camões. Para não confundir, há também o Dia Internacional da Língua Materna, comemorado em 21 de fevereiro.

O português tem sua origem no latim vulgar (falado). Atualmente, 250 milhões de pessoas têm o português como língua materna, segundo a ONU, divididas em 8 países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste). Mais de 80% desses são brasileiros. É a quinta língua mais falada do planeta.

Hoje, minha comemoração será dando a primeira aula do módulo “Português para tradutores” do curso Tradução 360º do Netwire Learning Center. Além desse módulo, também darei uma oficina de português nos meses de setembro e outubro, também para o NLC. Mais informações em breve. Fiquem ligados! 😉

Caso vocês ainda não saibam, também dou dicas de português no Periscope todas as segundas-feiras, às 14h. Basta me seguir no Periscope (@Alberoni) e você será notificado quando eu estiver on-line.

Espero que gostem dos links que separei para vocês:

Revista Língua
Ora pois, uma língua bem brasileira
Quite the Brazilian language, I say
Reino Unido considera português um idioma com futuro
Blog “Português é legal”
Entrevista: CPLP e Dia da Língua Portuguesa e da Cultura
Porta, portão, porteira: conheça a rota do “caipirês” falado no Estado de São Paulo
Feliz Dia da Língua Portuguesa
Preconceito e a língua que falamos: linguística para leigos
Brazilian Portuguese Phrasebook
Language differences between English and Portuguese
Instituto Internacional da Língua Portuguesa
Bilingual post by Melissa Harkin on Facebook
Portal “Terminologia”

Feliz Dia da Língua Portuguesa! Lembrem-se: usem-na sem moderação, mas com sabedoria. 😉

Dicas de português no Periscope

Interrompemos a programação editorial normal para fazer um anúncio importante:

Dicas de Português no Periscope!

O questionário sobre dicas de português no Periscope foi encerrado e eis os resultados:

  • 19 pessoas responderam ao questionário
  • Houve um empate no dia da semana: segunda e sexta-feira (6 pessoas cada); terça e quinta-feira também ficaram empatadas (3 pessoas cada); apenas 1 pessoa prefere a quarta-feira
  • A esmagadora maioria prefere a parte da tarde (12), contra 7 pessoas que preferem o período da manhã (opções: 8h – 12h ou 14h – 17h)
  • A esmagadora maioria também prefere que a transmissão seja feita semanalmente, contra 4 pessoas que preferem quinzenalmente e apenas 1 que prefere mensalmente
  • 10 pessoas não tem Periscope ainda, contra 7 que já têm o aplicativo
  • Das pessoas que ainda não têm Periscope, 15 afirmaram estar dispostos a baixar o aplicativo para acompanhar as transmissões, contra 2 pessoas que disseram não querer baixá-lo

Embora tenha havido um empate entre segunda e sexta-feira, decidi definir na segunda-feira, pois foi o dia de preferência durante grande parte do questionário e acredito que seja um bom dia para fazermos algo diferente e quebrarmos a rotina chata do primeiro dia da semana. Também decidi por definir logo às 14h para espantarmos o sono pós-almoço.

Perguntei o que os respondentes esperam dessas transmissões e o que sugerem como tópicos. Eis os comentários:

  • Norma culta e contexto
  • Uso de crase, concordância verbal e nominal
  • Nova ortografia, em especial hifenização e acentuação
  • Uso de verbos
  • Tudo
  • Como fazer uma escrita natural em traduções
  • Erros comuns
  • Dicas para tradutores
  • Explicações de erros e exercícios de correção de erros
  • Dicas de livros e materiais para estudo
  • Expressões
  • Vocabulário
  • Pronúncia
  • Maneiras diferentes de escrever de acordo com o ambiente/meio

Houve também dois comentários não relacionados ao tema do questionário, mas que estou considerando para futuras transmissões.

Como funcionarão as transmissões

As transmissões não terão duração maior que 30 minutos. Caso seja necessário, continuaremos de onde paramos na semana seguinte. Dessa forma, não atrapalha a rotina normal de trabalho de ninguém, por mais atarefada que a pessoa esteja.

Escolherei um tópico para cada transmissão, sobre o qual começarei falando no horário marcado. No entanto, vocês poderão fazer perguntas, e eu seguirei o fluxo dos comentários quando eles começarem a surgir. Também podemos discutir casos que vocês tenham encontrado nas próprias traduções, tirando dúvidas e encontrando soluções. Se possível, enviem-me esses casos por email (caroline@alberoni.com.br) antes da transmissão para facilitar.

A data de início das transmissões será na próxima segunda-feira, dia 19 de outubro. Caso ainda não tenha o aplicativo, baixe-o com antecedência. Caso ainda não me siga no Periscope, faça-o também com antecedência (@Alberoni). Meia hora antes do início das transmissões, escreverei um lembrete no Twitter (@AlberoniTrans). O Periscope automaticamente tuíta sobre a transmissão e envia uma notificação no seu celular assim que a gravação é iniciada.

Caso queira fazer parte do mailing list dessas transmissões e receber lembretes e eventuais informações e recursos adicionais por email, indique seu nome completo e email nos comentários abaixo ou envie-me um email manifestando seu interesse (endereço acima).

Sobre o Periscope

Para quem não sabe, o Periscope é um aplicativo de transmissão de vídeos ao vivo com interação dos espectadores em tempo real. Os espectadores podem escrever comentários que serão exibidos na tela para todos. Se você estiver gostando da transmissão, poderá indicá-lo tocando na tela. Essa ação exibe corações coloridos, função parecida com o “Curtir” do Facebook e do Twitter. A diferença é que você pode tocar e exibir coraçõezinhos quantas vezes quiser.

Até segunda-feira, às 14h!

Guia de estilo: material de referência de leitura obrigatória

Olá, leitores! Surpresa! Hoje a publicação semanal (que está mais para mensal ultimamente) será em português. Aos que sentiram falta da nossa língua tupiniquim por aqui, aproveitem! 😉

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Os tradutores com mais experiência, principalmente os que trabalham com agências, sabem o que é um Guia de Estilo (ou pelo menos deveriam saber, né? :/). Àqueles que não sabem: um Guia de Estilo, como o próprio nome diz, é um guia que contém instruções e orientações sobre o estilo de determinado cliente, além de regras gramaticais e lexicais do idioma de chegada. Com o glossário, ele é parte do material de referência que os clientes fornecem às agências e/ou aos tradutores. O material de referência, também como o próprio nome diz, deve ser consultado antes de iniciar uma tradução, a fim de saber mais sobre os usos e as regras do cliente e aplicá-los corretamente na tradução.

Como tenho observado que muitos tradutores desconhecem algumas regras frequentes desses guias, meu objetivo hoje é abordar algumas orientações importantes que constam na maioria dos Guias de Estilo.

  1. Uso de letras maiúsculas/minúsculas
    A língua inglesa usa muito mais letras maiúsculas que a língua portuguesa. Em português, somente nomes de pessoas/lugares devem iniciar com letra maiúscula. Em uma frase ou título, somente a primeira letra da primeira palavra é maiúscula. O mesmo serve para comandos de softwares e caixas de diálogo (exceto em traduções para o Windows, que não deve ser usado como modelo para outros clientes). Nomes de cargos não começam com letra maiúscula.
    Depois de dois pontos (:), usa-se maiúscula depois de “Observação”, “Cuidado”, “Aviso”, etc.
  2. Pontuação
    Em inglês, usa-se muito o traço (—), ao contrário do português, que raramente usa esse tipo de pontuação. Ele é normalmente substituído por dois pontos (:) ou vírgula (,).
    As aspas simples (‘) só devem ser usadas quando precisar usar aspas dentro de uma frase que já está entre aspas (“Pressione ‘Salvar’ antes de prosseguir”).
    Evite o uso de frases completas entre parênteses, que é muito comum em inglês. Normalmente, a simples remoção dos parênteses é a melhor solução.
    Ao contrário da língua inglesa, a pontuação em português é inserida após o fechamento das aspas.
  3. Números
    Os números de 0 a 10, 100 e 1.000 são escritos por extenso. No entanto, quando houver uma mistura de formatos em uma mesma frase, usar somente o formato numérico. Se o número estiver no início da frase, ele deverá ser escrito por extenso.
  4. Unidades de medida
    As formas abreviadas das unidades de medida não têm flexão de plural, não são seguidas por ponto e são separadas do número por um espaço. Alguns exemplos: ºC (grau Celsius), l (litro), min (minuto), h (hora), s (segundo), kg (quilograma), km (quilômetro), pol. (polegada; exceção, pois é seguido por ponto).
  5. Valores monetários
    Deve haver um espaço entre o cifrão e o número (R$ 25 mil, US$ 50 milhões).
  6. Marcadores e numeração
    A numeração é normalmente usada para etapas sequenciais. A primeira letra de cada item é em letra maiúscula, e, se o item for uma frase completa, deve terminar com ponto final. Marcadores podem conter itens simples ou frases completas. No caso de itens simples, a primeira letra é minúscula e a pontuação final é o ponto e vírgula (;), exceto o último item, que deve terminar com ponto final. Já no caso de frases completas, vale a mesma regra da numeração. Dica: veja se os itens podem ser lidos como um todo ou se constituem frases separadas.
  7. Símbolos
    Substitua: “#” por “nº”; “&” por “e”; e “@” por “em/a” (quando não for parte de um endereço de e-mail, é claro).
  8. Calendário
    Abreviação consagrada dos dias da semana: SEG, TER, QUA, QUI, SEX e SÁB. Meses: JAN, FEV, MAR, ABR, MAI, JUN, JUL, AGO, SET, OUT, NOV e DEZ.
  9. Gerúndio
    Em títulos, o gerúndio, amplamente usado em inglês, é normalmente substituído por um substantivo (salva orientação contrária do projeto). Outra opção é usar “Como” + verbo no infinitivo.
  10. Verbos
    Como regra geral, em textos técnicos, evite ao máximo o uso de verbos no futuro, mesmo se a estrutura em inglês for essa. Use o presente.
    Atenção com a concordância em frases condicionais: “Se o tempo estiver bom no fim de semana, jogarei tênis” e “Sempre que o tempo permite, jogo tênis”.
  11. Sujeito
    Embora a língua portuguesa permita a emissão do sujeito de uma frase, somente faça isso se o verbo deixar claro a qual pessoa ele se refere. Por exemplo, “posso” se refere ao pronome “eu”. Nesse caso, a emissão do pronome pode ser até melhor, a fim de evitar redundância e deixar o texto mais fluido.
    Cuidado com a repetição excessiva de pronomes em uma frase. Tente limitá-la ao máximo. Se possível, utilize o pronome somente uma vez.
  12. Pronome possessivo
    Em textos técnicos, embora o original em inglês use o pronome possessivo, há casos em que é melhor usar um artigo em português. Por exemplo, “o computador” (your computer), “o navegador” (your browser).

O mundo da tradução não é um conto de fadas em que você sempre encontrará um texto original perfeito e sem erros. Na verdade, o contrário é muito mais frequente do que deveria. Portanto, além de saber as regras da língua portuguesa, também é necessário conhecer muito bem a língua inglesa, a fim de que o texto de partida não nos confunda.

Nosso trabalho não é apenas traduzir o significado do texto de origem como também fazê-lo de forma correta e fluida, independentemente da fluidez e adequação gramatical dele, a fim de produzir uma tradução com significado, mas também com beleza e de fácil leitura. Conhecer todas as regras gramaticais e de estilo não é fácil, requer tempo e muita atenção. No entanto, com o tempo, elas se tornam parte do seu conhecimento e o processo de aplicação, automático. Esse pode ser o seu diferencial entre tantos tradutores no mercado: atenção aos detalhes.

Como alterar o idioma de um PPT traduzido

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A publicação de hoje será jogo rápido e em português, pois ensinarei a vocês a alterarem o idioma de todos os slides de um arquivo PPT de uma só vez. Este tutorial tem como base o Office 2007.

  • Clique no ícone “Botão Office” > “Opções do PowerPoint” > “Central de Confiabilidade” > “Configurações da Central de Confiabilidade”.
  • Marque a opção “Habilitar todas as macros (não recomendado; códigos possivelmente perigosos podem ser executados)”. Em seguida, marque a caixa “Confiar no acesso ao modelo de objeto do projeto do VBA”. Clique em “OK”.
  • Na guia “Mais Usados”, marque a opção “Mostrar guia Desenvolvedor na Faixa de Opções”. Clique em “OK”.
  • Na guia “Desenvolvedor”, clique em “Visual Basic”. Clique em “Inserir” > “Módulo”.
  • Copie e cole o seguinte código:

Sub ChangeToPTBR()



Dim osld As Slide
Dim oshp As Shape

For Each osld In ActivePresentation.Slides
For Each oshp In osld.Shapes
If oshp.Type = msoTextBox Or msoPlaceholder Then
If oshp.HasTextFrame Then
oshp.TextFrame.TextRange.LanguageID = msoLanguageIDBrazilianPortuguese
End If
End If
Next
Next
End Sub

  • Salve (Ctrl + S) e feche a janela do Visual Basic.
  • Clique em “Macros”, clique na macro que você acabou de criar e clique em “Executar”.

Esse processo mudará o idioma de todas as caixas de texto, mas não de tabelas. Estas precisarão ser alteradas uma a uma.

Este tutorial e o código fornecido acima servem para alterar o idioma de um PPT para português do Brasil. Nunca tentei alterar para outros idiomas. Teoricamente, você deve substituir “msoLanguageIDBrazilianPortuguese” do código acima pelo equivalente do idioma que desejar. A lista com esses nomes pode ser encontrada na página MsoLanguageID Enumeration.

Isso é muito útil para quem traduz arquivos PPT de outro idioma para português. Já me ajudou muito e espero que ajude vocês também.

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