Olá, leitores! Surpresa! Hoje a publicação semanal (que está mais para mensal ultimamente) será em português. Aos que sentiram falta da nossa língua tupiniquim por aqui, aproveitem! 😉
Os tradutores com mais experiência, principalmente os que trabalham com agências, sabem o que é um Guia de Estilo (ou pelo menos deveriam saber, né? :/). Àqueles que não sabem: um Guia de Estilo, como o próprio nome diz, é um guia que contém instruções e orientações sobre o estilo de determinado cliente, além de regras gramaticais e lexicais do idioma de chegada. Com o glossário, ele é parte do material de referência que os clientes fornecem às agências e/ou aos tradutores. O material de referência, também como o próprio nome diz, deve ser consultado antes de iniciar uma tradução, a fim de saber mais sobre os usos e as regras do cliente e aplicá-los corretamente na tradução.
Como tenho observado que muitos tradutores desconhecem algumas regras frequentes desses guias, meu objetivo hoje é abordar algumas orientações importantes que constam na maioria dos Guias de Estilo.
- Uso de letras maiúsculas/minúsculas
A língua inglesa usa muito mais letras maiúsculas que a língua portuguesa. Em português, somente nomes de pessoas/lugares devem iniciar com letra maiúscula. Em uma frase ou título, somente a primeira letra da primeira palavra é maiúscula. O mesmo serve para comandos de softwares e caixas de diálogo (exceto em traduções para o Windows, que não deve ser usado como modelo para outros clientes). Nomes de cargos não começam com letra maiúscula.
Depois de dois pontos (:), usa-se maiúscula depois de “Observação”, “Cuidado”, “Aviso”, etc. - Pontuação
Em inglês, usa-se muito o traço (—), ao contrário do português, que raramente usa esse tipo de pontuação. Ele é normalmente substituído por dois pontos (:) ou vírgula (,).
As aspas simples (‘) só devem ser usadas quando precisar usar aspas dentro de uma frase que já está entre aspas (“Pressione ‘Salvar’ antes de prosseguir”).
Evite o uso de frases completas entre parênteses, que é muito comum em inglês. Normalmente, a simples remoção dos parênteses é a melhor solução.
Ao contrário da língua inglesa, a pontuação em português é inserida após o fechamento das aspas. - Números
Os números de 0 a 10, 100 e 1.000 são escritos por extenso. No entanto, quando houver uma mistura de formatos em uma mesma frase, usar somente o formato numérico. Se o número estiver no início da frase, ele deverá ser escrito por extenso. - Unidades de medida
As formas abreviadas das unidades de medida não têm flexão de plural, não são seguidas por ponto e são separadas do número por um espaço. Alguns exemplos: ºC (grau Celsius), l (litro), min (minuto), h (hora), s (segundo), kg (quilograma), km (quilômetro), pol. (polegada; exceção, pois é seguido por ponto). - Valores monetários
Deve haver um espaço entre o cifrão e o número (R$ 25 mil, US$ 50 milhões). - Marcadores e numeração
A numeração é normalmente usada para etapas sequenciais. A primeira letra de cada item é em letra maiúscula, e, se o item for uma frase completa, deve terminar com ponto final. Marcadores podem conter itens simples ou frases completas. No caso de itens simples, a primeira letra é minúscula e a pontuação final é o ponto e vírgula (;), exceto o último item, que deve terminar com ponto final. Já no caso de frases completas, vale a mesma regra da numeração. Dica: veja se os itens podem ser lidos como um todo ou se constituem frases separadas. - Símbolos
Substitua: “#” por “nº”; “&” por “e”; e “@” por “em/a” (quando não for parte de um endereço de e-mail, é claro). - Calendário
Abreviação consagrada dos dias da semana: SEG, TER, QUA, QUI, SEX e SÁB. Meses: JAN, FEV, MAR, ABR, MAI, JUN, JUL, AGO, SET, OUT, NOV e DEZ. - Gerúndio
Em títulos, o gerúndio, amplamente usado em inglês, é normalmente substituído por um substantivo (salva orientação contrária do projeto). Outra opção é usar “Como” + verbo no infinitivo. - Verbos
Como regra geral, em textos técnicos, evite ao máximo o uso de verbos no futuro, mesmo se a estrutura em inglês for essa. Use o presente.
Atenção com a concordância em frases condicionais: “Se o tempo estiver bom no fim de semana, jogarei tênis” e “Sempre que o tempo permite, jogo tênis”. - Sujeito
Embora a língua portuguesa permita a emissão do sujeito de uma frase, somente faça isso se o verbo deixar claro a qual pessoa ele se refere. Por exemplo, “posso” se refere ao pronome “eu”. Nesse caso, a emissão do pronome pode ser até melhor, a fim de evitar redundância e deixar o texto mais fluido.
Cuidado com a repetição excessiva de pronomes em uma frase. Tente limitá-la ao máximo. Se possível, utilize o pronome somente uma vez. - Pronome possessivo
Em textos técnicos, embora o original em inglês use o pronome possessivo, há casos em que é melhor usar um artigo em português. Por exemplo, “o computador” (your computer), “o navegador” (your browser).
O mundo da tradução não é um conto de fadas em que você sempre encontrará um texto original perfeito e sem erros. Na verdade, o contrário é muito mais frequente do que deveria. Portanto, além de saber as regras da língua portuguesa, também é necessário conhecer muito bem a língua inglesa, a fim de que o texto de partida não nos confunda.
Nosso trabalho não é apenas traduzir o significado do texto de origem como também fazê-lo de forma correta e fluida, independentemente da fluidez e adequação gramatical dele, a fim de produzir uma tradução com significado, mas também com beleza e de fácil leitura. Conhecer todas as regras gramaticais e de estilo não é fácil, requer tempo e muita atenção. No entanto, com o tempo, elas se tornam parte do seu conhecimento e o processo de aplicação, automático. Esse pode ser o seu diferencial entre tantos tradutores no mercado: atenção aos detalhes.