Coworking: um modismo benéfico à saúde da tradução profissional
Dizem por aí que procrastinar é o oitavo pecado capital do homem contemporâneo, mas foi mergulhando nessa sina que eu descobri o coworking. Segunda-feira arrastada, Facebook aberto, feed de notícias pra cima e pra baixo, até que bati o olho no post de um colega anunciando que sua empresa estava de casa nova em um espaço de coworking. Curiosa, cliquei na tag do lugar e em um minuto me encantei pela proposta – ou melhor, fiquei obcecada a ponto de isso ter me rendido uma experiência de vida e trabalho fora do país, um par de palestras e um convênio de abrangência nacional para tradutores – nada mal para uma procrastinadazinha, não? E essa brincadeira só está começando. Mas, afinal, o que é coworking?
A resposta objetiva e superficial para essa pergunta é: um escritório compartilhado por profissionais liberais de diferentes áreas.
A resposta aprofundada (e que dá pano para manga) para essa pergunta é: um fenômeno (re)construído diariamente por aqueles que se propõem viver e trabalhar dentro da recém-nascida ordem da economia colaborativa.
Fruto da virtualização e da globalização do cotidiano, os coworkings são, fisicamente, espaços apropriados coletivamente por pessoas com diferentes objetivos de negócio. Assim, também são temporariamente multifacetados, pois o fluxo de integrantes (os coworkers) é dinâmico e variável. Além de oferecer benefícios diretos, facilmente identificáveis – uma alternativa econômica aos custos estratosféricos do mercado imobiliário/ratatá de infraestrutura -, os espaços de coworking também proporcionam ganhos indiretos, sutis e subjetivos por hospedarem diversidade, sendo, na prática, verdadeiros melting pots do empreendedorismo. Logo, são espaços que os tradutores precisam ocupar com urgência para crescer profissionalmente, até porque coworkar é a solução perfeita para fugir do isolamento do home office e fazer um networking saudável e nada forçado.
Foi experimentando essa prática em Buenos Aires que notei o potencial de transformação que coworkar traz aos seus adeptos. Por não estar em casa e por estar pagando pelo uso daquele espaço, chegava para trabalhar de verdade, com foco. Aproveitei também para cronometrar minha produtividade, comprovando na prática de que eu precisava, em média, de quatro a cinco horas bem trabalhadas para dar conta das minhas metas diárias. Isso me deu tempo suficiente para conhecer a cidade porteña com calma, fugindo do óbvio turístico, e, aos poucos, comecei a cultivar minhas próprias raízes no local. Em outras palavras, ouso dizer que consegui me aproximar um pouquinho do famoso work-life balance ao experimentar tocar o meu negócio em um espaço de coworking. E voltei para o Rio de Janeiro obstinada a espalhar a ideia para as pessoas, principalmente para tradutores como eu.
E desse desejo surgiu, há um mês, o Convênio Coworking para os associados da ABRATES e do SINTRA. A proposta é bem simples e está toda resumidinha no vídeo fixado na fanpage do Pronoia Tradutória. Acredito que estamos vivendo um momento definidor para a nossa profissão, que ganhou visibilidade com a chegada dos megaeventos no país. Portanto, está na hora de darmos as caras para o mundo e conhecê-lo melhor: ver e ser visto é um passo fundamental para desmistificar aqueles mal-entendidos acerca do nosso ofício. E esse esforço não é somente uma questão de autopromoção, mas também serve para semear os frutos vindouros de um mercado mais sadio. Afinal, a (in)formação de colegas e clientes é o melhor antídoto para as más condições que enfrentamos no ramo.
Fico contente em saber que já tem colega procurando os espaços conveniados e dando uma chance para essa prática que vem revolucionando a forma como o homem contemporâneo entende o trabalho. Já ouvi por aí que, no futuro, “coworking” não será mais uma novidade, um modismo; será a regra, a lógica “natural” em que a indústria de serviços se organizará. Se essa aposta vingará, só vivendo para saber, mas nada nos impede de já torná-la uma realidade.
About the author
Carolina Walliter é tradutora e intérprete no par inglês/português formada pelo Brasillis Idiomas; filiada à ABRATES, ao SINTRA e à IAPTI. Ativa no mercado da tradução desde 2010, atua principalmente nas áreas de comunicações corporativas, marketing, turismo e tecnologia da informação. Em 2013, começou a estudar o fenômeno do coworking informalmente, na mesma época em que partiu para sua primeira aventura como nômade digital em Buenos Aires. Relatou toda a experiência no blog Pronoia Tradutória, espaço que idealizou para refletir sobre o cotidiano do tradutor contemporâneo e seus desafios práticos. Além de traduzir e interpretar, também escreve para a Revista Capitolina e para a Traduzine.
Coworking foi a minha salvação. Ganhei produtividade e dias mais felizes. Comecei a ir há 1 semana e a diferença é gritante. Moro em St. Charles, no estado do Missouri, nos EUA, e escolhi a OPO Startups como nova casa. A pluralidade de profissionais é encantadora. O espaço ainda oferece cursos, palestras, eventos e mentoria gratuitamente para os coworkers. É outra vida!
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Que legal, Mel! Vi a foto do lugar que você publicou no Facebook. É bem bonito! E parece extremamente interessante também.
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Melissa,
Que ótimo que você se identificou com meu relato! Sim, coworkar é transformador! Você gostaria de contar sua história com o coworking na série Traducoworkers? Estou reunindo 12 tradutoras que vivem ou já viveram essa experiência, está bem bacana! Você pode conferir a série na seção “Blog” do meu site.
Um beijo,
Carol
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