Guest post: O que é esse tal de mindfulness?

Seja bem-vindo (de volta) à nossa série de publicações convidadas!

Hoje, depois de voltar de uma aula matinal de yoga, tenho o prazer de receber Amanda Ribeiro, intérprete, que falará sobre atenção plena (mindfulness).

Bem-vinda, Amanda!

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Crédito: Lesly JuarezUnsplash

Mindfulness: como manter a cabeça no lugar

Sempre que eu ouvia falar sobre os benefícios da meditação, eu já me adiantava e dizia que não era para mim. Afinal, moro num apartamento que fica em uma avenida movimentada de São Paulo, não tenho como me sentar diariamente em posição de lótus para ver o nascer do sol do topo de uma montanha, muito menos como desfrutar de silêncio absoluto. Além disso, minha cabeça é como o YouTube: é só propor um assunto e ela já deixa engatilhada uma lista infinita de sugestões relacionadas – ou nem tão relacionadas assim. Por essa e outras, “pensar em nada” estava fora de cogitação.

Somado a isso, vivemos na era da informação, da hiperconectividade, das mudanças rápidas, de volumes inimagináveis de dados, notícias, atualizações, livros, audiolivros, podcasts, revistas, séries, filmes e aplicativos que medem tudo nessa vida, com apenas um clique.

Todo esse volume de informação e de possibilidades, combinado à minha mente naturalmente inquieta de intérprete e personalidade que não acredita que exista cultura inútil, começou a pesar e a me sobrecarregar. Não demorei a sentir os sintomas de ansiedade, dificuldade para dormir e angústia por sentir que estava sempre devendo, sempre às voltas com tanto conteúdo pra consumir e tarefas por cumprir.

Para tentar “dar conta de tudo”, eu me treinei para ser multitarefa. Escovava os dentes ao mesmo tempo em que abria as janelas da casa, sempre comia escutando podcasts ou lendo as notícias, e com isso, jurava que estava otimizando meu tempo. Não estava. E foi então que percebi que quase tudo que eu fazia na vida era no piloto automático.

Olha, não estou aqui pra vilanizar o piloto automático, não. Não sobreviveríamos se tivéssemos que focar 100% em todas as nossas atividades. É uma questão de sobrevivência. Mas deixar que esse seja o padrão que dita o ritmo da nossa vida e endeusar a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo também não é o caminho.

Para dar uma ideia do meu estado mental, por falta de atenção no momento presente, tranquei meu marido dentro de casa e levei as chaves, minhas e dele, para o trabalho – duas vezes. Já desliguei o disjuntor de energia da cozinha ao sair para viajar (estragou tudinho que estava no freezer e na geladeira, e o cheiro, depois de 15 dias, ainda era de cena de crime, mesmo depois de uma amiga muito ponta firme ter dado uma faxinada antes da minha volta pra casa). Mais de uma vez me dei conta de que esqueci a fonte do notebook dentro da cabine de interpretação quando já estava no ponto de ônibus, e levanta a mão aqui quem já resgatou meias da lata de lixo o/ – que obviamente deveriam ter sido colocadas no cesto de roupa suja. Nada grave, eu sei, apesar de inconveniente. Mas, em casos extremos, a falta de atenção pode até ser fatal. Não é à toa que surgiu a necessidade de criar uma lei e colocar a plaquinha “Antes de entrar, verifique se o elevador está parado neste andar”.

O meu trabalho de intérprete já exige, por natureza, que eu divida a minha atenção entre esforços distintos e simultâneos. Segundo a Teoria do Modelo dos Esforços, de Daniel Gile, o intérprete precisa ouvir e analisar, produzir o discurso no idioma de chegada e armazenar informação na memória de curto prazo. Tudo ao mesmo tempo e o tempo todo. Como meu trabalho requer toda essa concentração e atenção, eu sabia que precisava fortalecer essa capacidade não natural e dar uma trégua para o meu cérebro nos momentos em que sou só pessoa física.

Sabia que algo precisava mudar em mim e foi com a certeza de que seria um grande desafio reaprender a fazer as tarefas do dia a dia com mais atenção que cheguei ao treinamento de oito semanas de mindfulness.

Era preciso aprender a desacelerar, a respirar, a escolher fazer uma coisa de cada vez.

“Mindfulness é um lugar para respirar no turbilhão da vida”, segundo a definição da instrutora Regina Giannetti, do programa Você mais Centrado. “É um estado mental em que você respira, permite que sua mente se estabilize e proporcione clareza de pensamentos.”

De maneira bem direta e simples, para praticar mindfulness você não precisa de uma vista privilegiada ou de um ambiente zen. Você pode estar presente e com atenção plena assim, exatamente do jeitinho que você está agora. Não importa se tem um avião sobrevoando sua casa ou uma sirene de ambulância disparada. Se decidir baixar a poeira dos pensamentos, sente-se de maneira confortável (de preferência sem se deitar para não cair na armadilha do relaxamento total e na sonolência), deixe os pés bem apoiados no chão, feche os olhos e preste atenção apenas na sua respiração, na maneira como seu peito se move quando inspira e expira, na temperatura do ar, na quantidade de ar entrando e saindo dos pulmões até que o temporizador avise que você chegou ao final da prática. É fácil? Não, não é. No começo, 5 minutos dessa prática parecem uma eternidade. Tudo o que você pensa é: “Será que falta muito ainda?” Sua cabeça implora para que você desista, te provoca com pensamentos de “não consigo”, “já cansei”, “vou parar antes, só desta vez”. Mas se você persistir e deixar ir esses pensamentos, a prática vai ficando mais confortável, você consegue ir aumentando o tempo e colhendo os benefícios de uma mente mais tranquila.

Uma alternativa de exercício é concentrar-se apenas nas percepções, e não na respiração. Trata-se de uma varredura de cada pedacinho do seu corpo. A sensação do seu pé direito dentro do calçado que está usando agora, os pontos em que seu corpo toca o assento e o encosto da cadeira, a textura da sua roupa encostando na pele, a existência de tensão em alguma parte específica do corpo. É maluco perceber que essas coisas estavam aí o tempo todo e não damos a elas a mínima atenção. Ao ter mais autoconsciência, passamos a notar essas partes esquecidas do corpo, e ao exercitar estar mais presente, passamos a nos conhecer melhor e a entender que, muitas vezes, o que estávamos sentindo não era fome, mas sim sede, que está irritado porque uma peça de roupa está desconfortável ou, ainda, aprende a apreciar, de maneira totalmente nova, o sabor de alimentos comuns do seu dia a dia.

O exercício diário fortalece nossa mente. Sem nos darmos conta, lembramos de respirar melhor em momentos de stress, aprendemos a nos acalmar quando estamos diante de decisões difíceis, a priorizar nossas demandas com clareza.

Hoje em dia, existem muitos aplicativos, como Headspace, Lojong, Meditação Natura e Gentle Birth (para gestantes), que oferecem práticas guiadas. Todos eles dispõem de versões gratuitas e pagas, e vale a pena baixar pelo menos um e começar a usar ainda hoje!

Olha, se você achou tudo incrível, mas decidiu começar na segunda-feira ou prefere esperar ter tempo para praticar o mindfulness, já adianto que isso não vai acontecer. É preciso criar esse tempo. Que sejam 4, 5 minutos por dia, todos os dias. Nem preciso dizer que mesmo quando alegamos não termos tempo algum, “nos perdemos” por muito mais do que esses minutinhos no abismo das redes sociais e nas armadilhas da internet.

Não pode fazer a prática formal? Experimente a prática informal. Escolha alguma tarefa do dia para fazer com atenção plena. Desta vez, você não focará na respiração ou no corpo, mas na execução de uma tarefa específica. Se for escovar os dentes, por exemplo, faça como se fosse a primeira vez na vida que realiza essa atividade. Preste atenção na cor da pasta, no cheiro, na aparência, no formato da escova, no material de que é feita. Veja a quantidade de pasta que coloca, o sabor, a textura, a temperatura dela. Atente-se aos movimentos da escovação, como a escova toca os dentes, a gengiva, a quantidade de espuma que forma. Sei que parece papo de doido, mas garanto que será uma experiência rica perceber os pequenos prazeres escondidos em um dia comum, como vestir uma roupa limpinha perfumada de amaciante ou apreciar a sensação do sol leve da manhã iluminando e aquecendo seu rosto.

Resumindo, pratique, persista e se aceite. Deixe ir os pensamentos. Quando os pensamentos surgirem, em vez de se apegar e dar muita importância para eles, perceba que eles sugiram e volte sua atenção para a sua respiração ou para onde decidiu ancorar a concentração. Não se julgue e tenha paciência contigo. É da natureza humana ter pensamentos, expectativas, impaciência, sentimentos de evitação. Quando surgirem esses pensamentos, seja gentil com você mesmo, reconheça a existência deles, volte a atenção pra sua respiração e sustente o máximo que puder, sem julgamento.

Por fim, como apoio pra todo o sempre, sugiro que acompanhe o podcast Autoconsciente. Trata-se de um canal criado por uma especialista e instrutora de mindfulness que traz conteúdo para você entender melhor sua mente e emoções e viver em paz contigo mesmo.

Seja bem-vindo! Que você esteja bem.

Sobre a autora
AmandaRibeiro_047Amanda Ribeiro é formada em Interpretação de Conferências pela PUC-SP e conta com Bacharelado em Tradução e Interpretação pela Universidade São Judas Tadeu e pós-graduação em Tradução pela Universidade Gama Filho.
Começou sua carreira atuando como tradutora, quando teve a oportunidade de traduzir textos de diferentes segmentos. Trabalha com interpretação desde 2016 e já atuou em configurações de reuniões, auditorias, pesquisas de mercado, treinamentos e congressos nas modalidades de interpretação simultânea, consecutiva e acompanhamento. Além das modalidades tradicionais, Amanda tem experiência em interpretação simultânea remota (RSI) por meio de plataformas virtuais. Além de intérprete, é locutora comercial e narradora de audiodescrição. É apaixonada por sua profissão, ama a comunicação e está constantemente em busca de melhoria e aprimoramento pessoal e profissional.

Mindfulness is the new multitasking

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Source: Unsplash

Stop!

Hey, hey, slow down.

Now breathe.

Yes, breathe. In and out. Deep breaths. Preferably with your eyes closed. Also, take the chance to check your posture and pay attention to all parts of your body. I will not continue until you do so.

Ok, ready?

How are you feeling? Hopefully, less hectic, and more relaxed. And now you are ready, and able to read and enjoy this post (at least I hope so).

 

The modern world is full of distractions. Everything is for yesterday. If something happens in the other side of the globe, we know live, as if we were there. We are required to do more, accomplish more, be more productive. Meanwhile, time seems increasingly shorter. Everything happens at the same time: you are crazily translating something to be delivered in a couple of hours, someone texts you, another person tags you on Facebook, you get a couple of emails, your phone rings. And all these things usually demand your prompt attention. Amidst this crazy routine, we can even forget to breathe! We forget we have a body that also needs our attention, but since it is quiet – not making a fuss as all the other things requiring our immediate attention –, we completely forget about it. I got short of breath only by writing this paragraph! Phew!

People proudly say they are multitaskers. As if this were something good. Well, here is the naked truth: it is NOT. First of all, you think you are able to multitask, but you are actually task-switching. This process can actually “cause a 40% loss in productivity,” increase your stress levels, have a bad effect on memory, harm your creativity. This article provides a small test that proves that the brain does not actually handle multiple tasks at once, as we believe.

It can be easy to rush through life without stopping to notice much

Have you heard of mindfulness?

It is a modern concept that has been increasingly discussed nowadays, and it means having a deep awareness of the present. It is thus the complete opposite of multitasking. Applying this concept to our everyday lives not only makes us happier and healthier but also more productive, resulting in quality outcomes, since we are 100% focused on what we are doing at the moment.

Think with me: It is better working five hours of your day totally focused on each task at a time than “working” for nine hours multitasking and not actually producing anything concrete, right? If you don’t believe me (neither in the researches), try for yourself one day.

I usually work at one-hour chunks. During this one hour, I focus 100% on whatever I have to do: translate, write a blog post, work on my finances. Then I take a quick break during which time I can check and reply to emails, check and reply to text messages, fetch something to eat, etc. Social media usually has its own time set aside, so I do not keeping checking it throughout the day. This can also be considered mindfulness, in my opinion.

Gym time for me is also precious. No phone, except for listening to music. But even that I seem to be getting tired of. I seem to be incresingly fond of exercising in silence, just paying full attention to each movement, my body, my thoughts.

And weekends are also perfect for practicing mindfulness. A friend of mine usually say, “Doing nothing is also productive.” Resting, having fun, relaxing, laughing, sleeping are also essential for productivity.

So what do you say? Let’s try less multitasking and more mindfulness? Who is with me?

 

I also suggest reading: Why Should We Slow Down? The Lost Art of Patience