Sejam bem-vindos a mais uma publicação convidada! A convidada deste mês é a Monica Reis, com quem tive o prazer de trabalhar no Comitê de Administração do Programa de Mentoria da Abrates.
Seja bem-vinda, Monica!

Fonte: Unsplash
Afinal, quem é e o que faz um Gerente de Projetos de Tradução?
Muito se fala no Gerente de Projetos (o chamado PM, Project Manager) como a pessoa que tem o controle de tudo que acontece dentro de uma agência de tradução. É ele (ou ela) o responsável por determinar tudo que acontece em um projeto de tradução, indo desde a escolha do cliente até a data de pagamento do tradutor. O fato é que nem sempre a pessoa por trás do cargo de PM em uma agência está diretamente envolvida em todos os processos que acontecem até que um projeto seja entregue traduzido ao cliente. Muitas outras pessoas estão envolvidas e têm papel até mais determinante que o indivíduo encarregado de gerenciar o trabalho.
Quando recebemos um pedido de tradução de um PM, normalmente não pensamos em tudo que aconteceu até que o seu nome fosse lembrado para aquele projeto específico. Acreditamos que as tratativas com o cliente foram iniciadas ali e que a tríade Cliente – PM – Tradutor formou-se do nada, sem passar por outras áreas da empresa.
Para que aquele cliente tenha chegado até a agência, foi necessário que um representante comercial fizesse contato com ele oferecendo serviços de tradução. Houve uma negociação de valores (nem sempre o cliente acha que a tradução vale aquele preço) e prazo (o cliente sempre acha que dá para fazer em um tempo menor). Só depois disso é que o projeto chega às mãos do PM. Engana-se quem pensa que quem determina o valor de uma tradução é o PM; ele normalmente trabalha com os valores determinados pelo dono da agência e, em alguns casos, com margens negociadas pelo representante comercial. São raros os casos em que o PM tem o controle sobre o valor a ser pago por uma tradução. Em uma agência ideal, o PM trabalharia junto com o departamento de vendas para determinar o valor de cada texto de acordo com sua complexidade linguística e de diagramação, prazo e outros fatores relevantes. Entretanto, a maioria das agências trabalha com valor fechado para a lauda, com alguma diferença de valor para prazos menores do que o normal (a chamada “taxa de urgência”).
E por falar em valores, engana-se também quem acha que é o PM quem determina o valor da lauda para o tradutor. Novamente, entra em cena o dono da agência. O PM até pode tentar negociar um aumento nas tarifas, mas a palavra final nunca é dele.
Quanto à escolha do tradutor para um projeto, podemos dizer que a decisão é quase que inteiramente do PM. É o PM quem decide que tradutor alocar para um determinado trabalho; entretanto, outros fatores podem influenciar nessa decisão, como descontos negociados com o cliente (que, consequentemente, alterarão o valor da lauda para o tradutor), escolha do cliente, entre outros.
A reputação do tradutor em termos de qualidade, entrega no prazo correto e especialidade no assunto são aspectos fundamentais na hora de tomar a decisão pelo melhor profissional para um projeto de tradução; mesmo assim, um PM pode decidir escolher outro tradutor por diferentes motivos. Muitas agências preferem trabalhar com o mesmo tradutor para determinado cliente (usando aquela velha máxima de que “não se mexe em time que está ganhando”). Muitos tradutores são especialistas no assunto, mas não aceitam a tarifa paga pela agência e nem sempre o PM pode interferir nesse processo.
Outro conceito errado é sobre a seleção de tradutores novos. A dificuldade de receber uma resposta (seja ela positiva ou negativa) de uma agência nem sempre está relacionada ao desinteresse do PM em contratar novos talentos para a sua agência. Muitas vezes, o PM recebeu outro currículo que se encaixa perfeitamente nas necessidades da agência naquele momento; ou aquele projeto não vingou; ou ele está envolvido em outros projetos com maior prioridade. Um PM organizado vai manter os currículos enviados de tal maneira que possa fazer contato com os tradutores quando for oportuno. Já enviei currículos e recebi resposta imediata, mas já tive muito mais currículos respondidos meses depois de tê-los enviado a agências.
Pensa que acaba aí? Não! Ainda falta a fase de revisão, diagramação (se for o caso) e entrega ao cliente. E depois disso, ainda é preciso esperar para ver se o cliente tem algum comentário, sugestão ou crítica sobre o trabalho entregue. Cabe ao PM receber o feedback do cliente e repassar ao tradutor e/ou revisor, conforme o caso, para futuros ajustes. Ainda é preciso gerenciar crises (quando o tradutor não entrega a tradução ou entrega em um prazo posterior ao acordado; quando o cliente não aprova a tradução ou quando o cliente não faz o pagamento, só para citar algumas).
O que o tradutor precisa entender é que a função de PM exige muito mais do que o simples conhecimento de idiomas. O PM precisa, antes de mais nada, ser flexível, saber solucionar problemas com rapidez e saber lidar com os vários elementos humanos envolvidos em um projeto de tradução. Assim como nós tradutores reclamamos quando um cliente fica insistentemente perguntando se o projeto contratado já está pronto, o PM também acha inconveniente que tradutores perguntem insistentemente sobre currículos enviados, prazos de pagamento, peçam adiantamento, etc. Então, da próxima vez que você não tiver resposta sobre um currículo que enviou e em vez de achar que o seu currículo foi parar na lixeira, pense nas outras tarefas que aquele profissional tem que cumprir durante o dia. Escreva, mas use o seu bom senso para saber quando e como escrever. Cordialidade e respeito são ótimos e todo mundo gosta.
Agradeço imensamente a aceitação do meu convite para escrever aqui no blog, Monica! É sempre muito bom ter outras perspectivas do processo de tradução.
Sobre a autora
Monica Reis é graduada em Letras/Tradução pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É tradutora técnica e jurídica do par inglês-português com mais de 15 anos de experiência. Membro da Abrates e da American Translators Association, faz parte do Comitê de Administração do Programa de Mentoria da Abrates e é editora-assistente da Revista Metáfrase, a revista on-line da Abrates.
Obrigada por me receber no seu blog, Carol!
LikeLike
Sou eu que tenho que agradecer, Mô! Foi um prazer recebê-la no blog! 🙂
LikeLike