Um bom dia congelante para você que mora no Brasil e está sofrendo com esse frio fora do comum. Minhas mãos estão congeladas e está sendo extremamente difícil digitar, mas são os ossos do ofício, não é mesmo? 😉
A publicação convidada deste mês, como vocês podem ver, é em português, daquela que ama chocolates e não esconde de ninguém, Mitsue Siqueira.
Seja bem-vinda, Mit!
Por que você precisa ser levado a sério?
Muita gente reclama que o trabalho do tradutor não é reconhecido nem valorizado pelos clientes e no mercado de trabalho, e que somos cada vez mais subestimados principalmente quando se trata de valores. No entanto, mal nos damos conta de que é igualmente importante educar a cabeça de quem passa mais tempo conosco: nossa família.
Vamos combinar que ninguém merece ouvir dos parentes comentários como “Mas você não trabalha?” ou “Só sabe ficar nesse computador o dia todo!”. Isso para não falar das festas, quando parece que todo mundo se reúne com o objetivo de falar abobrinhas como “Por que você não faz logo um concurso?” ou “Quando vai arrumar um trabalho de verdade?”. Bom, aqui vão algumas dicas para você impor respeito e acabar de vez com essas perguntas nada agradáveis.
Noção do seu trabalho
As pessoas sabem o que você faz? Se não, explique a elas. Você é tradutor, não é professor de idiomas, nem dicionário ambulante nem gramática viva. Você pode até ser professor também, gramatiqueiro ou não, mas é importante fazer as pessoas entenderem que você traduz, e que tradução, didática e linguística podem até se complementar, mas são atividades diferentes que exigem habilidades diferentes.
Respeito ao seu trabalho
As pessoas que moram com você precisam entender que sua casa é o seu local de trabalho. Se você decidiu adotar o seu quarto como home-office, informe que é preciso haver silêncio durante determinado período do dia, com o mínimo possível de interrupções. Se necessário, apele para a personalização de uma linda plaquinha “Estou trabalhando” e pendure na porta do quarto. No pior dos casos, vá de “Não perturbe” mesmo e trabalhe feliz no sossego do seu cantinho.
Respeito ao fruto do seu trabalho
“Tá pensando que dinheiro dá em árvore?” Duvido que você nunca tenha ouvido essa frase de algum parente seu. Então, quando aquela sua tia chata bater na porta do quarto (mesmo com a linda plaquinha personalizada) querendo matar a saudade, fazer fofoca ou simplesmente jogar papo fora, mostre que você aprendeu a lição da árvore que não dá dinheiro e dispense-a educadamente. Afinal, você precisa trabalhar para pagar suas dívidas. Combine de jogar papo fora com ela na hora do almoço, no chá das cinco ou em qualquer outro momento oportuno, mas não na hora do trabalho.
Brincadeiras à parte…
Sim, vamos falar sério agora, muito sério. Como tradutores, enfrentamos uma luta diária para conquistar novos clientes, ganhar valores que correspondam aos nossos esforços, nos destacar em meio ao mercado de trabalho, ser reconhecidos como uma categoria séria (e não apenas como uma profissão “complementar”) e para impor uma série de outros limites que determinam o nosso bem-estar profissional. Se você não consegue organizar uma rotina de trabalho em casa, certamente não terá a estrutura necessária para correr atrás de todos esses outros empreendimentos.
É isso mesmo, impor limites é nosso dever. As outras pessoas pouco (ou nada) sabem da nossa profissão, e isso não é obrigação delas; cabe a nós ensiná-las como a banda toca. Assim como você ensinou que existe um negócio chamado fuso horário àquele cliente que ligou duas ou três vezes durante a madrugada, você deve ensinar que existe um negócio chamado horário de trabalho a quem quer que divida o mesmo teto com você.
Então, ficamos combinados assim: nada de música alta, nada de interrupções desnecessárias, nada de invasões repentinas. Chega, agora não dá mais. Estou trabalhando, mais tarde nos falamos, ok? Afinal de contas, respeito é bom e todo tradutor também gosta.
Muito obrigada por ter aceitado meu convite para escrever aqui no blog, Mit! Principalmente na semana pós-congresso da Abrates, a mais corrida e insana de todas as semanas do ano. Foi um prazer recebê-la no meu cantinho. 🙂
About the author
Mitsue Siqueira trabalha como especialista linguístico na Ccaps, empresa brasileira de localização de software, há cerca de cinco anos. Além disso, Mitsue idealizou o Projeto TransMit, uma iniciativa inovadora que visa ajudar tradutores iniciantes e experientes a mapear a qualidade do próprio trabalho por meio de feedbacks linguísticos detalhados e constantes. É formada em Letras (Português-Inglês) pela Universidade Federal Fluminense.
Acho engraçado essa noção de que não trabalhamos,hoje mesmo uma colega, aliás uma pessoa que mal conheço ,fez uma cara de pena quando disse o que fazia e ela retrucou: “Mas por que você não dá aula?” Tem que ter muita paciência pra gente sem noção que acha que com google tradutor tudo se resolve. Não entendo, como será que essa gente lê Shakespeare: Ele escrevia em quantos idiomas?Como será que nós que falamos português lemos livros originalmente em inglês elizabetano? Curioso,né? AFFF
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Pois é, Raquel… Ainda tem muita gente com a mentalidade tacanha por aí, e você não faz ideia de quantos “Tão inteligente, por que você não faz um concurso?” eu já ouvi, como se fazer tradução fosse um desperdício. Na minha família foi difícil difundir o pensamento de que tradução é muito mais sério do que se imagina, mas até que agora eles entendem melhor (quando leem meus textos, seguram nas mãos um livro que já traduzi, acessam meu site etc.). Parece que a real dimensão desse trabalho só ficou tangível para eles assim. Bota curioso nisso!
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Olá, Raquel!
Primeiramente, agradeço a visita e o comentário!
Nossa profissão une duas questões que ainda são muito “novas” e não compreendidas com clareza pela maior parte das pessoas: que tradução é, sim, uma profissão; e que trabalhar em casa é como qualquer outro trabalho com carteira assinada. Precisamos ter paciência para entender essa não compreensão da nossa realidade pelas pessoas e para explicar como funciona.
Um dia, isso tudo será mais visto com mais naturalidade, espero!
Um grande abraço
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Não canso de falar isso… É incrível como isso acontece com todos nós por causa da cultura brasileira de que só trabalha quem sai de casa e tem carteira assinada…
Ótimo post, Mit!
Ótima convidada, Carol!
Bjs,
Laila Compan
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É impressionante, essa tal história da carteira assinada é quase um vício, Laila. Algumas pessoas simplesmente se apavoram com a ideia de um tradutor pensar em se desvincular de um contrato CLT para trabalhar como freelance e não ter a “segurança” da carteira. Ok, de fato é uma mudança que merece muita atenção e planejamento financeiro, mas conheço mil e uma pessoas bem-sucedidas que conseguiram migrar e não estão passando fome por isso!
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Olá, Laila!
Obrigada pela visita e pelo comentário!
É como eu disse no comentário acima: trabalhar home office ainda é algo muito novo e, muitas vezes, desconhecido por muitas pessoas. As pessoas não entendem muito bem como funciona. Meus amigos entendem perfeitamente, mas minha mãe, por exemplo, jamais entenderá muito bem, embora ela afirme que entende. rsrs É uma questão também de geração e ao que ela está acostumada.
Com o tempo isso se tornará cada vez mais comum e, portanto, conhecido. E cabe a nós ir disseminando esse conhecimento.
Beijão
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Mitsue, eu passo por isso diariamente! Apesar de já ter pedido dezenas de vezes para a minha mãe não me ligar de manhã, pois minhas filhas estão na escola e eu posso trabalhar sossegada, ela me liga TODOS os dias nesse período! Já pedi, já fiquei brava, já implorei… Agora, eu respondo por meio de monossílabos, ela fica brava e desliga. Mas já me interrompeu…
Minha avó me ligava, eu atendia e ela falava: “Ué, vc tá aí? ” E eu respondia: “É que eu trabalho aqui, vó.” Rsrsrs
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Até que desse mal eu já não sofro, meu telefone quase não toca no meu período de trabalho. Aliás, esse é o tipo de interrupção que incomoda em qualquer lugar, não só em casa; mas, obviamente, o estar em casa é muito mais associado ao famoso “Ah, ela deve estar à toa mesmo!”. Coragem!!!!
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Mãe é mãe. Nunca vai se acostumar. rsrs
Carol, obrigada pela visita e pelo comentário! 🙂
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