Guest post: Subtitling (in Portuguese)

Hello, dear readers! Hope you’re having a great beginning of the week. As of me, I’m quite anxious with the World Cup, as it has been for more than three weeks now. Today, Brazil plays on the first semifinal against Germany at 5pm (UTC -3). Who are you supporting?

Meanwhile, let’s welcome today’s guest, Jéssica Alonso, who wrote about subtitling.

Welcome, Jéssica!

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Legendagem: muito além de uma simples tradução

Se você costuma assistir a séries ou filmes legendados – seja no cinema, na televisão ou na internet – e gosta de prestar atenção também ao idioma falado pelos atores, muito provavelmente já se indignou ou formulou questões sobre uma ou outra escolha tradutória. É verdade que erros de tradução podem acontecer, mas muitas vezes as críticas acontecem por desconhecimento sobre a tradução específica para legendagem, uma forma de tradução audiovisual com características bastante peculiares.

Começarei abordando uma questão técnica: devido ao tamanho da tela, normalmente as legendas devem ser compostas por no máximo duas linhas de aproximadamente 32 caracteres cada, contando os espaços. Isso significa que, não importa quantas informações o falante diga, sua fala deve caber no espaço limitado destinado para aquela legenda. Surge então o primeiro desafio: a velocidade de fala é maior que a velocidade de leitura. Por esse motivo, o legendador muitas vezes vê-se obrigado a simplificar e reduzir o conteúdo do que foi dito oralmente, precisando selecionar as informações mais importantes a serem passadas para a linguagem escrita. É um excelente exercício de síntese e é sempre bom ter um dicionário de sinônimos por perto, já que quase sempre vale a pena optar por palavras de significado semelhante e menos letras.

Outro fator norteador ao se produzir legendas é o tempo mínimo necessário para a leitura. Pesquisas indicam que o brasileiro precisa de 1 segundo para ler, em média, no máximo 15 caracteres. Dessa forma, 1 segundo é o tempo mínimo que uma legenda deve permanecer na tela, considerando-se que um período mais curto fará com que a legenda “pisque”, impossibilitando a leitura. Então, se uma pessoa consegue ler no máximo 15 caracteres por segundo, uma legenda de 30 caracteres precisará ficar visível por no mínimo 2 segundos para que o telespectador tenha tempo de realizar uma leitura confortável. É aí que entra na legendagem, para a surpresa de uma tradutora formada em Letras, a matemática! (Nada que uma regrinha de três não resolva, mas, ainda assim, são cálculos!) O tradutor deve atentar para a proporção entre o número de caracteres e a duração da legenda. Se o tempo disponível for muito curto, cabe ao legendador achar uma solução, seja reduzindo mais o texto, seja unindo a legenda em questão com a anterior ou a posterior.

Após a tradução do vídeo segundo o que é ouvido – às vezes com o auxílio de um roteiro escrito –, o legendador deve também realizar a marcação do momento em que a legenda entra e sai da tela, processo chamado de timing. Por se tratar de um tipo de tradução que agrega diferentes estímulos, o visual pelas imagens e pelo texto escrito e o auditivo pelas falas e sons, o espectador espera que a tradução daquilo que é ouvido entre e saia simultaneamente com a fala do personagem. Há nesse quesito também outra convenção bastante adotada pelas produtoras: a duração da permanência da legenda na tela deve variar entre 1 e 6 segundos, uma vez que um tempo maior pode fazer com que o espectador releia a legenda, o que não é aconselhável. O tradutor, nesse caso, deve optar por “quebrar” a fala do personagem em mais de uma legenda com durações mais curtas, utilizando as respirações e pausas feitas pelo falante para auxiliá-lo na divisão das legendas.

Além das limitações em relação ao número de caracteres por linha, aos tempos mínimo e máximo de duração da legenda na tela e à velocidade da fala versus a velocidade da leitura, há também as restrições impostas pelas próprias produtoras. Assim como grande parte das agências de tradução ou dos clientes, muitas produtoras desenvolveram ao longo dos anos seu próprio guia de estilo, documento que deve nortear algumas das escolhas do tradutor legendador. Como você já deve estar imaginando, este documento é o responsável, na maioria das vezes, por sua revolta ao ouvir um “F*ck!” saindo da boca de algum personagem enfurecido com uma arma na mão em um filme do Tarantino e ler algo como um simples e inocente “Porcaria!“. Muito provavelmente o tradutor sabe a correspondência mais adequada para a expressão em português, mas seu “chefe” não admite o uso de linguagem de baixo calão em suas produções.

Muito ainda poderia ser dito sobre o fazer tradutório na área de legendagem. Há a questão dos diálogos, das onomatopeias, das palavras ditas sem som – como um cochicho –, dos sotaques em um mesmo idioma, da tradução de músicas, da divisão ideal das legendas, de seu formato, cor e posicionamento, entre muitas outras. Acredito, porém, que, abordando os quatro pontos acima, consegui desmistificar e esclarecer um pouco o trabalho do legendador, trabalho este que exige muitos cálculos e jogo de cintura para lidar com questões intra e extralinguísticas. Por isso, da próxima vez que for incomodado por uma questão tradutória ao ver um filme, lembre-se dos tantos outros aos quais você assistiu e leu sem nem perceber. Pois estes são os trabalhos de melhor qualidade: aqueles em que o tradutor entra no escurinho do cinema com você, sussurra as falas em seu ouvido e sai de fininho antes que as luzes acendam-se novamente!

Thanks a lot for your excellent contribution to our blog, Jéssica! I loved learning a bit more about subtitling, and I’m sure those who don’t work with it did too. It was a pleasure hosting you here. 🙂

Would you like to ask any questions to Jéssica? If not, feel free to make any comments as well.

Author bio
10525058_4433273566003_2109372173_nJéssica Alonso é tradutora formada em Letras com habilitação em português e alemão pela USP e pós-graduada em Tradução de Inglês pela Estácio de Sá. Fornece serviços de tradução desde 2011 e legendagem de vídeos em inglês e alemão para o português desde 2013. Já legendou diversos tipos de produções audiovisuais como séries de comédia e suspense, documentários sobre biologia, reportagens sobre automóveis e vídeos institucionais. E-mail: jessicatradutora@gmail.com. Perfil do ProZ.

2 thoughts on “Guest post: Subtitling (in Portuguese)

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