Tradução audiovisual: legendagem x dublagem

Hello, dear readers! How was your weekend? Ready to start another week? Well, before you do, why not enjoy another translation? Or during your lunch/break time, depending where you are.

Esther Dodo, our frequent translator, has translated the guest post Audiovisual translation: subtitling vs dubbing (by Valentina Ambrogio) from English to Brazilian Portuguese.

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Se há uma coisa que aprendi na minha experiência como tradutora audiovisual é que jamais serei capaz de assistir a filmes estrangeiros (ou a qualquer programa de TV) como costumava fazer. Sim, porque agora presto atenção a todos os detalhes relacionados a tradução! Imaginem como o meu namorado se sente quando começo a reclamar das traduções mal feitas ou dos erros de segmentação das legendas, quando a única coisa que ele gostaria de fazer é relaxar depois de um longo dia.

Deixe-me explicar um pouco sobre a minha especialização.

O que é tradução audiovisual? 

Tradução audiovisual (TAV) é a tradução de qualquer material de áudio, visual ou audiovisual para facilitar a distribuição dele em um mercado diferente. Quando falamos em TAV, normalmente nos referimos à dublagem, legendagem, localização e acessibilidade da mídia (audiodescrição, legendagem para deficientes auditivos).

A maior parte do meu trabalho é com legendagem e dublagem, portanto, falarei mais sobre essas duas áreas e a minha experiência com elas.

Legendagem

As legendas ajudam o público entender a “parte falada” de um filme enquanto ouve os diálogos originais. A prática generalizada de legendagem feita por fãs fez com que as pessoas acreditassem que ela é uma tarefa fácil. Sinto muito desapontá-los, mas não é! Como qualquer outra especialização no segmento da tradução, o profissional precisa de treinamento adequado, e a existência de cursos certificados na área é uma clara indicação disso. A legendagem não é apenas uma mera tradução (o que é, então?), e o legendador deve, por exemplo, tomar alguns cuidados com:

  • Quantidade de caracteres – normalmente, cada linha não pode ter mais que 40 caracteres, e cada legenda pode conter até, no máximo, duas linhas.
  • Duração – o espectador deve ter tempo para ler todas as legendas que aparecerem na tela. O tempo médio de duração é de 1,50 a 2 segundos para legendas bastante curtas (com uma ou duas palavras) e até 6 segundos para as mais longas.
  • Sincronização –o diálogo do filme e a presença das legendas na tela devem ser correspondentes.

No entanto, a tradução audiovisual não se limita apenas a traduzir diálogos. Existem outros tantos elementos importantes (como placas, letras, textos na tela e outros textos escritos) que são frequentemente fundamentais para a trama e, portanto, devem ser traduzidos. Isso se torna um problema quando existem trechos de diálogos importantes e, ao mesmo tempo, uma placa relevante surge na tela. Em casos assim, o legendador deve fazer uma escolha importante e omitir o que ele considera menos relevante para o desenrolar do enredo. As boas legendagens são como vestidos feitos sob medida: eles servem perfeitamente, mas o papel do alfaiate não é visível. 

Dublagem 

Dublagem é a tradução com ajuste (ou melhor, adaptação) nos diálogos para os movimentos labiais do ator (sincronização de lábios), que também é um dos maiores obstáculos do processo de dublagem. Certa vez, li que a dublagem é como uma ilusão de que os personagens falam na língua alvo. Na dublagem, a abordagem de tradução é muito diferente do que na legendagem. Por exemplo, o tradutor deve fornecer o máximo de indicações possíveis para o ator que fará a dublagem, como:

  • Nome do personagem;
  • Pausas curtas ou longas;
  • Diálogos dentro e fora da tela, mesmo dentro da própria frase.

Essas são apenas algumas delas, existem muitas outras. A tradução

final se parece muito como um roteiro de cinema, mas com muito mais detalhes. Outros fatores a serem considerados são os movimentos corporais e os elementos não verbais. A dublagem ocorre na fase de pós-produção. Ela envolve toda uma equipe de especialistas, motivo pelo qual seus custos são consideravelmente mais altos do que os da legendagem.

Legendagem ou dublagem?

Existe uma longa discussão em curso sobre os prós e contras dessas duas técnicas bastante diferentes. Resumindo, por um lado, a legendagem permite que o espectador desfrute dos diálogos originais, o que é bom tanto para o aprendizado da língua quanto pelo simples fato de poder apreciar as vozes originais e todas as diferentes nuances delas.

Além do mais, é mais rápida do que a dublagem, acelerando, assim o acesso à mídia. Por outro lado, nem todo mundo gosta de assistir a um bom filme com legenda, que é considerada um elemento de distração. Essa situação é mais comum em países onde a dublagem é a prática mais comum.

Na Itália, algumas das maiores empresas de dublagem, administradas por um número pequeno de famílias, são responsáveis por 80% do total dos filmes e trabalhos correlatos de dublagem, incluindo a parte tradutória. O resultado é que todos os filmes não apenas falam a mesma língua, como também têm as mesmas vozes. Essa, na minha opinião, é uma das maiores desvantagens da dublagem. Não me leve a mal, os dubladores são verdadeiros profissionais. Eles são impecáveis e tão bons quanto os atores, mas acredito que a dublagem interfere muito na essência dos filmes.

Bem, eu defendo a legendagem. Meu último trabalho de legendagem envolveu adaptações de filmes para festivais internacionais de cinema. A tradução de filmes estrangeiros faz  com que eu tenha contato com diferentes culturas e estilos culturais de filmes diversos. Às vezes, sinto-me verdadeiramente conectada com esses filmes e fico bastante triste quando o trabalho chega ao fim (é nesse nível que amo esse trabalho). Existe sensação melhor do que essa?

About the translator
Esther PicEsther Dodo é paulistana, formada em Administração de Empresas, tradutora freelancer e, atualmente, está prestes a obter certificação como tradutora no par inglês-português na New York University (NYU). Reside nos EUA desde 2001. Entre em contato com ela peloLinkedIn e pelo Facebook.

4 thoughts on “Tradução audiovisual: legendagem x dublagem

  1. Adorei o artigo. Gostaria muito de trabalhar nessa área, principalmente com legendagem. Já mandei currículo para várias empresas e poucas estão procurando novos tradutores. E quando respondem é para fazer poucos trabalhos e depois sumir. Você tem alguma dica de como começar e manter um bom ritmo de trabalho? Pensei em fazer um curso de legendagem em São Paulo, mas não sei se apenas isso basta.

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    • Olá, Nayara!
      Primeiramente, agradeço seu comentário e sua visita no blog! 🙂
      Infelizmente, não entendo absolutamente nada dessa área, pois trabalho com tradução técnica, especificamente na área de TI.
      Uma sugestão é você consultar profissionais da área, como a Jéssica Alonso, que já escreveu aqui para o blog (bit.ly/1mbSnmj).
      Sou defensora de estudos na área, sim. Aliás, qualquer tipo de estudo é sempre válido e pode ser um ponto de partida. (Leia mais aqui: bit.ly/1bP7ZDP) No entanto, é claro, só isso não basta. É necessário pesquisar e ler bastante. Também já escrevi sobre isso aqui: bit.ly/1c5yFAi
      Enfim, tente entrar em contato com pessoas da área e trocar ideias com elas, que saberão dar dicas melhores e mais aprofundadas.
      Caso preciso de qualquer outro tipo de ajuda, estou à disposição. 🙂
      Sucesso!

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  2. É fácil dizer “eu prefiro a legendagem”, mas a existência das duas não é questão de disputa. Qualquer indivíduo culto/letrado vai preferir. Mas temos que lembrar que a dublagem é acessibilidade. Cegos, analfabetos, analfabetos funcionais (que não são poucos), idosos (menor capacidade de leitura rápida), pessoas com qualquer dificuldade de leitura (como a dislexia), crianças, etc. Assim, o público é diferente, que condiciona também, de certa forma, o próprio fazer dublagem. A existência das duas é questão de existência de diferentes necessidades que devem ser atendidas.

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    • Olá, Maria Helena!

      Bom ponto! Obrigada por compartilhá-lo conosco!

      Obviamente, essa questão de opinião é do alto do nosso privilégio por poder escolher entre um ou outro. No entanto, poder escolher é um direito. O que tem acontecido muito, principalmente no interior, é o domínio da dublagem em todos os tipos de filme. Raramente vou ao cinema, pois prefiro, sim, assistir a filmes legendados, mas só há filmes dublados. A dublagem dominou o cinema e nem é mais uma questão a ser discutida. A acessibilidade que ela proporciona está sendo muito bem atendida. Isso é um ponto muito positivo, mas não tira o direito de quem pode preferir entre um ou outro de ter sua própria opinião.

      Um grande abraço,

      Carol

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